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 | 28/06/2010 06h13min

Erros de arbitragem marcam as oitavas de final da Copa

Inglaterra e México foram prejudicados por lances ilegais

Rodrigo Müzell

Não adiantou nada colocar em campo uma coleção de craques nos jogos de ontem. Quem roubou a cena vestia, em vez da camiseta de alguma das seleções, o escudo da Fifa.

Dois erros graves de arbitragem ajudaram a mudar o rumo das duas partidas. Jorge Larrionda, do Uruguai, não viu um gol da Inglaterra contra a Alemanha no qual a bola entrou 33cm. Roberto Rosetti, da Itália, validou o primeiro gol argentino, contra o México, com Tevez completamente impedido.

Com as duas babadas, caiu por terra o que vinha sendo a surpresa da Copa em termos de arbitragem, segundo o instrutor da CBF e ex-árbitro José Mocellin: os bandeirinhas.

— Os assistentes vinham acertando lances muito difíceis. Hoje (ontem), foi um caos total – define Mocellin.

No Mundial, a confusão que resulta dos erros de arbitragem é amplificada pela tecnologia. Em alguns jogos, como no de ontem entre Argentina e México, os telões mostram o replay dos lances polêmicos. Ao ver a posição ilegal de Tevez, os mexicanos correram a cercar o auxiliar Stefano Ayroldi, que não deu o braço a torcer — e nem poderia.

— A Fifa proíbe o uso do recurso eletrônico. Mesmo que o quarto árbitro tenha visto no telão que Tevez estava impedido, não poderia alertar o Rosseti sem sem confessar que usou o telão – diz o analista de arbitragem da Rádio Gaúcha Francisco Garcia.

Se a tecnologia vem deixando a arbitragem em maus lençóis — dos 70 mil presentes no estádio, só os quatro árbitros não podem olhar para o telão —, não seria hora de usá-la para reduzir os erros? Para o técnico italiano Fabio Capello, está mais do que na hora.

— É incrível a Fifa continuar se negando a recorrer à tecnologia. Se tivéssemos empatado, teria sido diferente — disse Capello.

Incrível ou não, isso não deve mudar tão cedo. Só a International Board pode mudar nas regras do futebol, e ela só se reúne em 2011. Além disso, explica Mocellin, a Fifa não tem interesse em incluir mais tecnologia no esporte. A entidade estuda colocar árbitros atrás das goleiras, mas não usar câmeras.

— Há problema do custo, porque qualquer mudança tem de valer para todas as divisões, da Copa do Mundo até a Terceira Divisão. Mas a Fifa também se preocupa com o entretenimento: o debate sobre esses erros faz parte da cultura do futebol — opina Mocellin.

Enquanto a arbitragem seguir errando, as casas de apostas britânicas terão uma categoria curiosa de fezinha: “gols fantasmas”, quando se coloca dinheiro em tentos que todos viram – menos o árbitro. Larrionda ignorou o golaço de Lampard, mas a Graham Sharpe não: pagará R$ 266 mil aos apostadores.

— Até Joseph Blatter sabe que Lampard marcou, por isso começamos a pagar — explica William Hill, assessor da Graham Sharpe.

Três perguntas para...

Chico Garcia analista de arbitragem da Rádio Gaúcha


Zero Hora – Se o estádio todo percebe os erros de ontem, por que os árbitros não voltam atrás?

Francisco Garcia – Porque a Fifa proíbe o recurso eletrônico. Mesmo que o quarto árbitro tenha visto no telão que Tevez estava impedido – e certamente viu –, não há o que fazer sem confessar que usou o telão. O auxiliar correu para o centro do campo, validando o gol. Quando o árbitro foi consultá-lo, o que ele poderia dizer? Que viu no telão que errou?

ZH – O que poderia ser feito para reduzir os erros?

Garcia – Colocar dois árbitros auxiliares atrás dos gols, com a tarefa de cuidar tudo o que acontece dentro da área. Isso já foi testado na última Liga Europa, mas o problema são os custos: seriam seis árbitros em cada partida em todos os campeonatos oficiais disputados no mundo. Mas resolveria, porque quase todos os lances capitais são dentro da área e dificilmente o juiz entra lá. Sou contra usar imagens.

ZH – Por quê?

Garcia – A partida pararia a todo momento. Além disso, a imagem nem sempre esclarece. Pelo contrário: às vezes ficamos dias a fio discutindo um lance, e futebol tem de ser decidido na hora.

Opções para reduzir erros

Chips nas bolas

Colocar na Jabulani um chip com sensor de radiofrequência avisaria a arbitragem que o chute de Lampard entrou — além de dizer com precisão quantos centímetros após a linha a bola picou na grama.

Porque a Fifa não quer: jogos de todas as divisões teriam de usar as bolas modificadas e incluir sensores nas goleiras, o que aumentaria os custos.

Consulta a replay

Em jogadas polêmicas, o juiz poderia consultar as imagens do lance captadas pelas câmeras de televisão e discutir o que houve com o quarto árbitro antes de tomar a decisão. O impedimento de Tevez, por exemplo, foi mostrado no telão instantaneamente.

Porque a Fifa não quer: além de exigir uma estrutura de filmagem em todas as partidas (mesmo as da Segundona, por exemplo), “quebraria” muito a partida, com paradas frequentes.

Árbitros atrás da goleira

Um árbitro auxiliar atrás de cada meta cuidaria exclusivamente das jogadas dentro da área. Decidiria se a bola entrou ou não, marcaria faltas no empurra-empurra antes de escanteios, flagraria pênaltis.

Porque a Fifa não quer: das novidades, é mais próxima de ser adotada — já foi testada na Liga Europa 2009-2010. O problema é que isso exigiria o treinamento (e o pagamento) de mais árbitros para as federações, já que cada jogo teria seis árbitros.

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