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 | 16/06/2010 05h11min

Gol de Maicon consolida simpatia realizada pelo pai do jogador

Manoel Sisenando enterrou cordão umbilical do filho em estádio de futebol

Diogo Olivier

A profecia cumpriu-se ontem, quando o dono do cordão umbilical enterrado no estádio Santa Rosa, em Novo Hamburgo, emendou aquele chute improvável e sem ângulo no frio antártico de Joanesburgo. Até ali, a estreia brasileira ganhava contornos de pânico com tendência a motim. A simpatia engendrada pelo seu Manoel Sisenando há 29 anos pedia que o filho se tornasse um jogador famoso. Pode haver fama mais definitiva do que golaço pelo Brasil na alvorada de uma Copa do Mundo?

Foi gaúcho, revolucionário e histórico o gol de Maicon, que abriu a fechadíssima — em todos os sentidos — Coreia do Norte.

Gaúcho porque Maicon nasceu em Novo Hamburgo, obviamente. Foi ainda criança para Criciúma, onde mora até hoje quando não está em Milão ou ganhando algum novo título mundo afora — tipo a Liga dos Campeões da Europa ou o penta italiano pela Inter. Maicon orgulha-se de suas origens. Eu o entrevistei semanas antes da Copa. E ele quase implorou ao telefone:

— Pode colocar aí que eu sou gaúcho como o meu pai, por favor?

O gol de Maicon foi também revolucionário, claro que foi. A retranca armada pela seleção norte-coreana parecia mais cerrada do que o regime do ditador comunista Kin Jong-il. O gol representou a conquista da liberdade do time de Dunga. Até ali era pressão total com prenúncio de vexame caso o empate persistisse. Depois, o alívio. Por isso o filho do seu Manoel se emocionou tanto.

— Rodou um filme na minha cabeça. Tudo o que eu passei valeu a pena. Fiz um gol em Copa do Mundo! Beijei a aliança como sinal de agradecimento a minha mulher e a família. Não chorei, mas quase - suspirou na entrevista coletiva, na qual o melhor jogador da partida pela Fifa também elogiou a tão vilipendiada Jabulani:

— Para bater no gol, a bola é bem boa. Ela só complica para os goleiros.

Além de revolucionário e gaúcho, a curva imprevisível que Maicon imprimiu à Jabulani no Ellis Park provocou um fato histórico. O último gol de um lateral-direito brasileiro em Copa foi há 24 anos.

Josimar, chamado às pressas por Telê Santana para substituir o cortado Leandro, que foi para a farra com Renato Portaluppi durante a concentração no Rio, entrou no time na marra. Nos 4 a 0 sobre a Polônia, na Copa de 1986, Josimar aventurou-se pela direita e, quase sem ângulo, desferiu um chute cuja trajetória o goleiro Milynarcyk definiu como sobrenatural. Como sobrenaturais são as semelhanças entre os dois gols, de Maicon e de Josimar, separados por quase três décadas.

Repare só: ambos foram contra times de vermelho, resultados de curvas alucinantes e marcados pelo inquilino da lateral-direita. Quer mais? Os dois se encaixam na classe dos golaços e, o mais sobrenatural de tudo: marcados no mesmíssimo décimo minuto do segundo tempo. Se colocar no caldeirão de superstição aquele míssil de Carlos Alberto Torres na final de 1970, contra a Itália - tudo bem, não foi em curva, mas põe golaço nisso -, aí é de suspeitar de sinal dos céus. Quem sabe o hexa será contando assim, no futuro:

— Tudo começou com o incrível gol de Maicon...

Quem sabe.

Túnel do tempo: o gol de Josimar na Copa de 1986

Se o gol de Maicon lembrou o de Josimar (foto) em 1986, contra a Polônia, as semelhanças se limitam ao lance. A trajetória dos dois é bem diferente. Enquanto o gaúcho chegou à África do Sul como campeão europeu pela Inter de Milão, levado por uma carreira sólida e vencedora, o botafoguense Josimar aportou no México por acaso, graças ao corte de Leandro. Brilhou no Mundial e, depois, envolveu-se com drogas. Foi até detido no Rio. Jogou a carreira fora. Hoje tenta recostruir a vida dando aulas de futebol no Instituto Bola para Frente, de Jorginho, no Rio.

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