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 | 10/06/2010 03h07min

Ruy Carlos Ostermann: A necessidade do binóculo

Para bem assistir ao treino, identificar os jogadores, perceber se Kaká puxa da perna ou se Júlio César acusa um repuxão nas costas, não pode ser a olho nu. Nem resolve a lente do fotógrafo, muito menos meus óculos de grau. Humildemente, e por boa vontade do proprietário, se for jornalista, melhor — ele desenvolve uma espécie de solidariedade profissional que nessa instância pode ser decisiva —, é indispensável usar binóculo.

Não se consegue ver por uma razão simples e verdadeira, impossível de corrigir: jogadores de abrigo, depois de se exercitarem no ginásio, que nem se vê atrás do campo de golfe, ficam exatamente a um quilômetro de distância e de lá não saem.

Fiz várias tentativas. Me encostei nos fotógrafos, caminhei para o lado, fui para um canto, subi no restaurante, que fica atrás e abre-se todo para aquela exemplar paisagem de grama cultivada e poucas árvores (foto), mas igualmente lindas e bem tratadas. Inútil: tive de me valer das informações obtidas não sei como pelos repórteres, o Zé e o Serginho.

Treinaram todos, ninguém pareceu machucado. A conclusão foi positiva. Todos podem jogar na estreia.

Euforia

Uma extraordinária passeata pelo centro da cidade, milhares de pessoas empolgadíssimas, uniformizadas, com bandeiras e faixas, e som a mil, todas as vuvuzelas disponíveis, bloqueou a região até o Soweto, que era o destino da manifestação. O trânsito parou, as TVs registraram tudo com repórteres e comentaristas, em zulu, inglês e africâner. E tudo para simplesmente anunciar o entusiasmo que todos devem ter com a seleção no jogo de abertura da Copa do Mundo, África do Sul contra o México. Estão entre a euforia e a decepção. Um fato extraordinário.

Dormir

Ontem segui à risca as recomendações. Tratei de deitar na hora de deitar em Joanesburgo. Estava muito cansado da viagem, era a primeira noite, o fuso horário deveria ser acionado organicamente. Dormi logo e acordei logo também. Não foi preciso me virar de um lado para outro até que, num baque, morri. Acordei cedo, li um pouco, dormi de novo. Hoje sou quase outro homem.

Adaptação

Uma das adaptações que se reconhece e começa a ser valorizada é a imediata adaptação das cozinhas populares a um gosto internacional. A famosa comida apimentada dos africanos foi substituída por lanches, arroz branco, carnes cozidas, sopas e assim por diante. Nada que possa exaltar o paladar mais sensível.

O vinho, naturalmente, é o nacional. De primeira.

Liberdade

Queixas sobre o regime fechado da Seleção. As frestas que o pessoal da imprensa consegue para assim mesmo dar o dia a dia da Seleção muitos consideram exíguas e até injustas. Não há por que discordar, a liberdade de fazer o trabalho deveria ser completa. Mas, então, como conciliar a atenção no trabalho e as solicitações de todos, e não apenas a brasileira? A Seleção é o maior atrativo para todos. Ontem havia 500 jornalistas na coletiva do Gomes e do Gilberto Silva e os mesmos, ou outros, assistindo ao treino a um quilômetro. Sempre é assim. Como liberar geral?

Desastre

Aliás, o que ninguém ouve ou leva em conta é que na Alemanha e em Weggis em 2006 o grande desastre foi este mesmo: todo mundo tomou conta da concentração e dos campos de treino e também abriram as escapadas para a diversão geral, de jogadores, torcedores e jornalistas.

Foram esses fatos da absoluta e inaceitável gravidade que determinaram a intervenção do presidente Ricardo Teixeira, que está na origem de Dunga/Jorginho e, de certa forma, desses fatos relativos à falta de liberdade. Não é fácil, nem um pouco.

ZERO HORA
Fabrice Coffrini/AFP / 

Jogadores da Seleção durante treino
Foto:  Fabrice Coffrini/AFP


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