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 | 09/06/2010 11h44min

Ruy Carlos Ostermann: a primeira advertência africana

Com certeza, a Copa do Mundo que está nas ruas, nos cartazes, discretamente e em inglês no avião desconfortável, mas imenso e aboletado da South Africa, e aqui no hotel e nas proximidades se pode prosseguir na conversa de todo mundo, ela só vai começar de fato, com gols, goleada, arrepios e humilhações, quando eu e essa montanha de aturdidos estiverem entendendo alguma coisa do que já está acontecendo ao redor.

A primeira instrução que me deram na forma de uma advertência não terrorista, mas de mão espalmada, é que não se deve, não é aconselhável sair à noite. Já é noite em Joanesburgo, não há movimento nas ruas, tem vento, faz frio, não há a mínima perspectiva de uma mudança. Há pouco o aquecedor quase incendiou minha valise de apetrechos leves e quase pesados, salvou-a o David porque meu olfato serve apenas para especiais taças de vinho, pouco mais do que isso. Vou avaliar os prejuízos mais tarde e não me atrevo a contar esse incidente no café da manhã.

Sopa

A comida até agora não poderia ser mais adequada a sul-americanos em estágio probatório. Um breakfast tardio, às 11h, porque todo mundo trabalha até tarde aqui, cedo daí, omelete, frios, pão preto, café com leite e sucos. E à noite, com essa residência fixa, uma sopa com legumes preparada com carinho de oito mãos.

Precaução

Ninguém gostou da Coreia do Norte (na foto, treinando com rígido esquema de segurança) e nem mais pelas razões ideológicas que sempre interferiram no julgamento esportivo de país com outra orientação. Mas nem por isso desaparece a margem imponderável de um jogo de futebol e sua capacidade de surpreender. A tendência absolutamente natural é a nossa Seleção tratar de resolver o problema comedidamente, passo a passo, como se no momento exato saltasse a solução de todos os problemas. O histórico de surpresas desse gênero sempre tem essa trajetória, às vezes até pior. Mas não se critica a Seleção do Dunga porque ela é fria e calculista?

Então serve como precaução.

Reserva

Brasileiros que se encontram por toda parte na forma de jornalistas esportivos, especialmente, mas também torcedores com suas ridicularias orgulhosas na cabeça e nas costas, vão para cima de argentinos, chilenos e mexicanos (foram os confrontos que assisti na chegada no aeroporto em que todos desciam para as suas aventuras de Copa me pareceram ligeiramente desconfiados. Não há uma ostentação pública, são até recatados enquanto os hermanos sobem nas mesas e um deles abriu uma bandeira de grande tamanho com a cara de Maradona e essa frase que repetia gritando cada vez mais: Lo más grande de todos!

Nem a provocação foi rebatida.

Superiormente, me pareceu, o grupo de torcedores que também ia buscar condução não reagiu. Estavam vestidos comedidamente de brasileiros, talvez fossem outro tipo de torcedor, mais reflexivo, comedidamente capaz de sorrir e sair de perto.

Entusiasmo

Talvez não haja mesmo outra saída. Mas o técnico Carlos Alberto Parreira (foto), com seu meio sorriso que às vezes parece ironia, mas não é, repetiu em inglês para os sul-africanos e quantos outros o que dissera para o Sportv: ele não vê nenhuma seleção mais bem preparada para a Copa do que a sua. Combinam-se orgulho profissional e um forte desafio. Tem riscos, mas pegou muito bem entre os torcedores e os analistas que pude ler no jornal inglês de Joanesburgo. Deve ter sido assim em todo o país que ainda está aprendendo mais uma lição de Mandela, a de ter orgulho.

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