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 | 07/11/2009 21h04min

Técnicos emergentes elevam padrão profissional

Novo time de treinadores concorre pelos empregos nos melhores clubes

CARLOS GUILHERME FERREIRA  |  carlos.ferreira@zerohora.com.br

Wanderley Luxemburgo & Cia que se cuidem: surge uma nova turma de técnicos do Brasileirão, com salários menores mas com desempenhos tão bom como os da velha guarda. Gente emergente, no bom sentido da palavra.

A geração 2000 é representada por Adilson Batista, Silas, Dorival Júnior, Ney Franco e Ricardo Gomes. Mano Menezes poderia entrar na lista, mas a trajetória meteórica já o colocou no patamar de Luxemburgo, Muricy Ramalho e Paulo Autuori, com títulos de expressão.

É justamente esse o diferencial: o título. Por isso, há quem evite apontar Celso Roth entre os melhores, embora as temporadas pelo Grêmio e Atlético-MG o tenham consagrado entre os respeitáveis. De vida duradoura.

Quem explica é Paulo César Carpegiani, campeão do mundo pelo Flamengo, em 1981, que deixou o Vitória em meio ao Brasileirão:

– O título não mede. Coroa.

Mas ser campeão exige preparação, conhecimento, trabalho e, acima de tudo, um bom time. Por isso, os técnicos falam tanto em metodologia. Ficou para trás o tempo em que, para treinar uma equipe, bastava o dueto bate-papo e distribuição de coletes. Como lembra Carpegiani, nenhum técnico abre mão da tecnologia – ele mesmo usa um programa que gera estatísticas a partir dos teipes dos jogos.

Silas, do Avaí, representa bem o sangue-novo. Camisa 10 de Sebastião Lazaroni na Copa de 1990, o ex-meia de 44 anos começou a carreira no final de 2006, no Paraná, como auxiliar de Zetti.

Em março de 2008, assumiu o Avaí e, desde então, subiu para a Série A.

Neste ano, foi procurado por Flamengo, Atlético-PR, Barueri, Botafogo e Sport.

– Quero escrever uma história como o cara que honra o contrato. Recebi proposta para ganhar 10 vezes mais do que no Avaí – garantiu, referindo-se a uma oferta para trabalhar no Exterior.

Evangélico, de personalidade centrada, este paulista nascido em Campinas considera vitoriosos os quase dois anos no Avaí. Fala em se firmar no mercado brasileiro para, então, tentar voo mais alto. Quer fazê-lo por meio do estilo baseado no contato com os jogadores, com disciplina tática rígida: definir padrão de jogo e “morrer com ele”.

Para isso, usa de todos os recursos. Nas reapresentações, passa teipes de times como Milan, Real Madrid e Barcelona. Explora pontos positivos e disseca estatísticas do próprio Avaí, individuais ou coletivas, na vitória ou na derrota.

Interessa a ele que o atleta compre a ideia do padrão de jogo. O funcionamento coletivo passou a ser tão importante porque o campeonato deixou de ter jogadores que desequilibram.

Tudo isso, porém, não é suficiente para um técnico dar certo no Brasileirão. Silas respondeu a esta pergunta de modo sincero.

– Precisa ter estômago de elefante. Treinador tem que ser muito frio, ver a profissão como um trabalho, ser profissional ao extremo. Não pode se envolver com torcedor ou negócios alheios. Ele tem uma missão: não é só dar resultado, mas preparar o jogador para a vida. Tem que ser pai, irmão mais velho. O cara encaminhado como ser humano rende mais como atleta – raciocina.

É um pensamento parecido ao do diretor-executivo do Vasco, Rodrigo Caetano. Dirigente remunerado, ele vê exigência e concorrência cada vez maiores no mercado dos técnicos. Mas com contrapartida positiva: a estabilidade cresceu. Muito devido ao planejamento e à presença de suporte para os treinadores, como é a figura do próprio Caetano no líder da Série B.

Funciona assim: técnico com plenos poderes, ao estilo Luxemburgo, andam em baixa. O novo modelo de gestão preza pela divisão de tarefas.

Aqui, um parêntese: às vezes, há descentralização demais, porque um técnico deixou seu time na Série A depois de bater de frente com um dirigente que altera por vontade própria a lista de inscritos de uma competição.

De volta ao modelo moderno, Caetano conta que o gerente ajuda o técnico em questões de relacionamento no vestiário, na parte tática e em contratações. Vira uma espécie de braço-direito e libera o treinador para o foco em campo.

– Não existe mais o treinador dono de clube – atesta Carpegiani.

O ex-técnico do Vitória prefere evitar uma lista de colegas promissores para “não cometer injustiças”. Caetano fala em Adilson Batista, do Cruzeiro, Dorival Júnior, do Vasco, e Silas, que cita exemplos como Vágner Mancini, do Vitória, Ney Franco, do Coritiba, Ricardo Gomes, do São Paulo, e Alexandre Gallo, ex-Inter e Santos.

Todos têm potencial de futuro, mas precisam evitar incorrer em um erro de postura lembrado por Silas. Se a reclamação maior sempre recai sobre dirigentes que demitem técnicos, os treinadores também devem ter apego ao clube.

– O treinador fala em longo prazo, mas chega um clube com R$ 10 mil a mais e ele chuta o cargo. O técnico pensa muito com o bolso – critica.

Se um dia atingirem o patamar de Luxemburgo e Muricy, Silas e os emergentes poderão exigir salários polpudos. Mas, como diz Carpegiani, para enfrentar a renovação é preciso se renovar.

Em gráfico, conheça o Frankenstein da casamata, o comandante que reúne as principais qualidades de treinadores do Brasileirão

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