| 18/10/2003 15h42min
O novo presidente da Bolívia, Carlos Mesa, iniciou neste sábado, dia 18, a pesada tarefa de frear a desintegração social do país e diminuir as desigualdades, horas depois da renúncia de seu antecessor, Gonzalo Sánchez de Lozada, que deixou o poder isolado por uma forte revolta popular.
Mesa, de 50 anos, que é jornalista, historiador e novato na política, assumiu o governo na noite desta sexta com uma advertência: "Estamos lidando com o futuro e o destino da Bolívia". Ele inclusive já está negociando a formação do novo ministério, que pela primeira vez na história do país não deve ter a participação de partidos políticos. Ele prometeu evitar a tradicional disputa por cargos, que imobilizou o governo anterior e provocou crescente repúdio popular.
Filho de historiadores, ex-repórter de rádio e autor de vários documentários de TV, Mesa quer governar menos do que os três anos e dez meses previstos pela Constituição – ou seja, até completar o mandato de Sánchez de Lozada. Em seu primeiro discurso ao Congresso, ele disse que vai negociar com o Legislativo para reduzir esse mandato e convocar eleições em um prazo "razoável".
Entre esse compromissos, Mesa anunciou a convocação de um referendo sobre a exportação de gás e uma lei para redefinir a relação entre Estado e empresa privadas, que desde 1997 atuam no estratégico setor dos combustíveis. Ele também prometeu se empenhar para convocar uma Assembléia Constituinte, da qual surja uma "nova Bolívia", socialmente mais justa, politicamente mais sólida e economicamente mais igualitária.
Neste sábado, Mesa disse que seu governo vai proteger os investidores, apesar do compromisso de rever as leis de abertura do mercado de energia, motivo dos violentos protestos que derrubaram seu antecessor. O novo presidente afirmou que entende a preocupação dos mercados, mas que as reformas que ele pretende implementar não vão prejudicar os capitais investidos no país.
– Pelo contrário, o que temos de fazer é dar uma garantia de que o investimento feito na Bolívia seja útil para quem investiu e para o país – disse ele ao final de uma improvisada oração com um grupo indígena na catedral de La Paz, localizada junto à sede do governo.
Depois de se ajoelhar diante do altar e de rezar um Pai-Nosso e uma Ave Maria junto a dezenas de índios, comerciantes e garimpeiros, Mesa atendeu cada um dos presentes, abraçando-os e escutando seus pedidos.
– O tema central que vamos trabalhar na reforma é a venda de gás – disse o jornalista e historiador. O projeto de exportação de gás aos Estados Unidos usando um porto chileno foi o estopim da crise que derrubou Sánchez de Lozada. Mesa prometeu empenho na criação de uma indústria nacional de derivados de combustíveis. Mesmo assim, ele admitiu que as medidas relativas ao gás provocarão mudanças em toda a política energética.
– Temos de reavaliar o que tem a ver com o tema da privatização ou da capitalização – disse, antecipando que a prioridade será rever a estrutura tributária à qual estão submetidas as empresas privadas do setor.
Mesa também prometeu incentivos para o retorno de bolivianos que emigraram devido às dificuldades econômicas.
– Tenham certeza de que vamos trabalhar para que este país possa acolher os compatriotas que tiveram de emigrar, para que possam também encontrar aqui o espaço que encontraram na Argentina, entre outros países. Podemos lhes assegurar que a partir de agora vamos tentar sair desta difícil situação para criar uma Bolívia para todos – afirmou.
Sánchez de Lozada, de quem Mesa era vice, renunciou à Presidência 46 meses antes do fim de seu mandato, para o qual foi eleito em 2002. Ele estava cada vez mais pressionado pela maior onda de manifestações nos 21 anos de democracia ininterrupta da Bolívia. Em um mês, 74 pessoas morreram devido à repressão policial e militar aos protestos, iniciados por causa do projeto de exportar gás natural aos EUA por meio de um porto do Chile. A principal exigência dos manifestantes, nos últimos dias, passou a ser a saída de Sánchez de Lozada.
Com informações da Agência Reuters.
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