| 23/06/2010 05h10min
Agora levei medo.
Primeiro, Kaká se mete em provocações e acaba expulso. Logo ele, um jogador correto, bom filho, experiente, de sucesso, o protótipo do moço para casar. Agora, nosso único candidato a craque nesta Copa reclama estar sendo vítima de preconceito em razão de sua opção religiosa evangélica. Aconteceu ontem, depois do treino em Joanesburgo.
Kaká disse que Juca Kfouri, jornalista da Folha de São Paulo e da ESPN Brasil, o persegue por ser ateu.
Citou uma coluna em que Juca abordou a gravidade de sua inflamação no púbis, somou esta a outras críticas pontuais, misturou tudo e acusou o colunista de desrespeitar não apenas ele, mas "milhões de brasileiros que fazem a opção pela palavra de Jesus".
Para tanto, escolheu uma pergunta de André Kfouri, filho de Juca e também jornalista da ESPN. André não tinha nada a ver com a historia, mas acabou entrando de gaiato no navio.
Pronto: estava deflagrado mais um episódio de conflito com a imprensa no ambiente da Seleção na África do Sul.
E outra vez, curiosamente, sem motivo algum. Antes foi opisódio do descontrole emocional de Dunga, que enxergou em uma conversa telefônica de Alex Escobar e Tadeu Schmidt, ambos da Globo, algo contra ele. Ou com referências a ele, quem sabe. Não deu tempo de tirar as crianças da sala. Dunga mirou nos olhos de Escobar e disparou palavrões captados pelo microfone da Fifa.
É óbvio o que está acontecendo com a Seleção. O comportamento de Dunga está se espalhando pelo vestiário e chegando perigosamente aos jogadores.
Kaká nunca agiu assim. Sempre absorveu críticas com a mesma altivez exibida em campo. Nunca misturou alhos com bugalhos, como colocar a crença em Deus no mesmo caldeirão de problemas clínicos. Mesmo nos tempos de São Paulo, quando foi injustamente alvejado pela torcida por "amarelar" em jogos importantes, teve maturidade e paciência para deixar o tempo provar o contrário.
É assim em qualquer ambiente profissional. Se o chefe é desleixado, o desleixo toma conta de seus comandados. Se é bem humorado, o riso é uma prática. Se é tenso, a angústia toma conta. Se é seguro, a serenidade flutua. Quando mais Dunga destilar ódio contra inimigos imaginários, mais intolerância vai semear no vestiário.
Tomara que nada disso entre em campo. Os árbitros desta Copa já mostraram que não têm vergonha de mostrar cartões. A Seleção não pode se "Dunguizar" desta maneira. Ou sofrer com surtos de "dunguite aguda". Copa do Mundo exige sangue e destemor, mas também cabeça no lugar.
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