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 | 11/05/2009 07h37min

Estiagem trava o noroeste gaúcho

Para direcionar recursos à distribuição de água, 21 prefeituras suspendem serviços

Itamar Melo  |  itamar.melo@zerohora.com.br

A população de 21 municípios assolados pela seca no Noroeste do Estado enfrenta uma provação a mais a partir de hoje. Em uma ação conjunta, as prefeituras vão fechar portas e suspender serviços até a sexta-feira. Na região norte, mais 45 municípios também podem paralisar parte dos serviços hoje e sexta-feira. O protesto das prefeituras envolverá mais de 60 cidades no Estado. Somente na região noroeste, o prejuízo na agropecuária é estimado em R$ 157 milhões.

Além de poupar recursos para aplicar na distribuição de água, os prefeitos arquitetaram a medida como forma de chamar a atenção para o drama da estiagem e de pressionar por socorro estadual e federal. Serão 150 mil moradores atingidos, 90 mil deles da zona rural, na área de abrangência da Associação de Municípios da Região Celeiro (Amuceleiro). Situada junto às divisas com Santa Catarina e com a Argentina, a região está sem chuva expressiva desde o final do ano passado.

O principal prejuízo para os moradores, além dos danos causados na agricultura, deve ser na educação. As escolas municipais estarão fechadas, e o transporte escolar, que atende também à rede estadual, não vai operar. A estimativa é de 10 mil estudantes atingidos pela interrupção das aulas. Moradores de Linha Bonita, no interior de Vista Gaúcha, um dos 21 municípios mobilizados, Cleodir Meira, 15 anos, e sua irmã Cleoni, 12 anos, foram avisados da suspensão pela diretora da escola do município na sexta-feira. Não gostaram da notícia.



— Eu não queria ficar sem aula, para mais adiante não ter de estudar até fevereiro. Como não nos deram nenhum trabalho para fazer, vou ficar em casa, quebrando milho — contou Cleodir, aluno de 6ª série do Ensino Fundamental.

Cleoni, da 7ª série, também se queixa, mas está mais animada com a paralisação. Ela vai aproveitar a folga para deixar a terra esturricada e pobre da família e visitar a irmã que trabalha em Frederico Westphalen. Levará junto, para matar a saudade da mãe, o sobrinho de dois anos que ficou na roça. A viagem seria ontem, de ônibus.

— Eu gosto de lá, é muito maior, vou passear bastante. Aqui não tem o que ver, já sei de cor. Em Frederico tem muita coisa que falta aqui. Tem pracinhas — diz a menina.

A propriedade dos pais de Cleodir e Cleoni é uma demonstração da crueldade da seca. Como o milho não rendeu nada, a carroça usada na colheita perdeu sua utilidade original e virou depósito de água. O pai, Írio, 45 anos, forrou-a com uma lona e um plástico e recebeu ali a água apanhada em rio e trazida de caminhão pela prefeitura. É dela que bebem os porcos e o gado. A outra fonte é uma poça no meio do açude seco, que surgiu depois de Írio ter a ideia de remexer no barro.

Além de Cleodir e Cleoni, outros 240 alunos ficarão sem aula na escola municipal de Vista Gaúcha. O corte do transporte escolar atingirá 900 alunos. No Norte do Estado, segundo a Associação dos Municípios da Zona da Produção, a previsão é de que somente o serviço da área de saúde seja mantido nos dois dias de protesto.

 
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