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 | 22/06/2006 22h39min

Festa brasileira na terra dos samurais

Após o jogo, nenhuma sujeira que lembra a partida

Lotada por jovens com a camiseta dos samurais azuis, a danceteria Velframe, no bairro de Ropongi, em Toquio, explodiu em gritos de "Nipô, Nipô, Nipô'', quando o que parecia impossível aconteceu: Tamada fez 1 a 0 para o Japão, aproveitando o passe do único jogador negro da equipe, o brasileiro naturalizado japonês Alex Santos. Não havia uma só camisa verde ou amarela entre os espectadores que assistiam ao jogo por um telão com transmissão digital, a maioria usando as camisas de Nakamura e Nakata. Com 1.521 lugares, a Velframe se transformou num dos pontos mais procurados pelos japoneses para assistir aos jogos da Copa.

A cada gol que Kawaguchi evitava, a torcida vibrava como se estivesse no estádio de Dortmund e abanava os leques de plástico distribuídos pela Sky PerfecTV. O goleiro do Japão, que foi chamado de ''Mãos de Deus'' quando pegou um pênalti no jogo contra a Croácia, era a salvação do time.

A primeira comemoração veio antes de gol japonês, quando o locutor anunciou o gol da Croácia contra a Austrália. Tudo parecia perfeito até o final do primeiro tempo, mas Ronaldo acabou com a alegria dos japoneses. O primeiro tempo terminou com a torcida japonesa duplamente abalada pela reação brasileira e pelo empate entre Croácia e Austrália. Começa a amanhecer. A cinco quadras da Velfare, no restaurante Acarajé, propriedade de brasileiros, aglomeram-se torcedores vestidos de verde e amarelo, japoneses fardados com a camiseta azul e outros à paisana, a maioria brasileiros descendentes de japoneses que trabalham no Japão. Para assistir ao jogo, cada um pagou mil yenes (pouco menos de 10 dólares), com direito a dois telões, duas TV nas paredes laterais e uma dose de bebida.

No meio do grupo, Claudio Kussano, 31 anos, destoava pela vestimenta: camiseta vermelha, do Internacional. Natural de Uruguaiana, Kussano está no Japão há cinco anos. Trabalha numa fábrica de alimentos congelados, sente saudade do Rio Grande do Sul e se mantém torcedor fanático pelo Inter.

A torcida brasileira é mais barulhenta que a japonesa. Loiras e morenas cantam, gritam e sambam. Uma loira chega a subir na mesa e samba para uma câmera de TV que registra o entusiasmo da torcida mista. Mesmo quando o placar já está 3 a 1, em um jogo que o Brasil poderia até perder, Marcio Takafuji, 30 anos de idade e 13 de Japão, esbraveja, rói as unhas e grita como se estivesse no jogo da final. Operário de uma indústria de placas de concreto, Marcio – vestindo a camisa 8 de Káká, abraça a amiga Mika Saito, 18 anos, estudante japonesa, e tenta faze-la torcer pelo Brasil. Os amigos enrolam uma manta da seleção japonesa no pescoço do brasileiro e, no fim, todos comemoram juntos a vitória do Brasil.

Os brasileiros só falam na recuperação de Ronaldo e um deles diz a frase que sintetiza o pensamento da torcida:

– Viva o Gordo!

Terminado o jogo, centenas de pessoas circulam pelas ruas usando os uniformes do Brasil e do Japão. Fica impossível tomar um táxi. No metrô, os torcedores cruzam com quem está a caminho do trabalho na manhã de sexta-feira, dormindo ou lendo. No chão, nenhum sinal do jogo: nem bandeiras, nem copos, nem restos da festa. Tóquio continua tão limpa como antes da partida.

ROSANE DE OLIVEIRA/ESPECIAL DO JAPÃO
 
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