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 | 04/05/2002 14h17min

Britto assume o papel de candidato

Ex-governador concedeu entrevista a Zero Hora

Mesmo tendo pedido tempo ao PPS na quarta-feira para dar uma resposta definitiva sobre sua participação na eleição de 6 de outubro, o ex-governador Antônio Britto assumiu o papel de candidato e já fala até nos critérios que usará para montar a equipe, caso seja eleito.

Na sexta-feira à tarde, dia 4, Britto recebeu Zero Hora na sala de seu novo apartamento no bairro Bela Vista. Por meio de uma assessora, recebia as informações sobre o andamento do encontro do diretório estadual do PTB e não escondia a satisfação com as notícias de que todos os oradores usavam o microfone para defender a aliança com o PPS. Empolgado, chegou a anunciar sua primeira medida como governador: “pacificar a área da segurança pública”.

Confira a entrevista publicada em Zero Hora:

Zero Hora – Por que o senhor decidiu ser candidato, depois de passar os últimos meses dizendo que não concorreria?

Antônio Britto – Eu procurei ao longo destes três anos construir todas as condições de não ser candidato. Infelizmente, o rompimento da Frente Trabalhista pelo PDT me deixou numa situação em que o meu projeto pessoal de não ser candidato traria pesadas conseqüências ao PPS, às pessoas que comigo estão reorganizando o PPS e a outros segmentos partidários e não-partidários do Rio Grande. Eu vivi nos últimos dias um drama muito grande porque o projeto pessoal me mandava não ser candidato e o projeto coletivo me obrigava a ser.

ZH – Se for para o segundo turno, o senhor acredita que conseguirá o apoio do PMDB?

Britto – Nós vamos ter uma eleição em que no primeiro turno cada partido exerce o direito de procurar demonstrar a sua força. No segundo, eu tenho absoluta convicção de que haverá uma separação clara de partidos e de candidatos entre aqueles que desejam a continuidade desse governo intolerante e ineficiente liderado pelo PT e aqueles que desejam que o Rio Grande retome um caminho de tolerância e desenvolvimento. Tenho uma relação de respeito com o PMDB. As divergências que nos obrigaram a sair do PMDB decorrem de uma conjuntura nacional. Até aproveito para dizer isso: não contem comigo para qualquer futrica, intriga em relação a Germano Rigotto, Celso Bernardi, Fortunati, Simon, a Brizola. Eu entendo que o Rio Grande está mandando que a gente tenha juízo e ofereça uma alternativa em relação ao governo que está aí.

ZH – O senhor está sugerindo um pacto de não-agressão no primeiro turno para facilitar o acordo no segundo?

Britto – Não, eu não gosto de dar receitas para ninguém. O que eu posso é definir o meu comportamento e o comportamento do PPS. A sociedade do Rio Grande, até com alguma irritação, vem cobrando que as oposições realizem os seus projetos partidários mas não percam de vista que os partidos têm que ser instrumentos para que o Rio Grande volte a ter um governo tolerante, comprometido com o desenvolvimento.

ZH – Depois dos últimos incidentes com o ex-governador Leonel Brizola o senhor imagina que é possível ainda se unir ao PDT no segundo turno?

Britto – Quero que vocês compreendam: não emito a partir de hoje mais nenhum comentário sobre Brizola, PMDB etc que não seja de absoluto respeito. Não estou dizendo adeus ao doutor Brizola. Estou dizendo até logo. Tenho certeza de que ele, que ajudou decisivamente a construir o governo do PT, governo que o fez sofrer o que sofreu como gaúcho e como pai, não estará disponível pela segunda vez para eleger um governo do PT.

ZH – Não lhe cria um certo constrangimento a declaração do senador Roberto Freire de que se Ciro Gomes não disputar o segundo turno com Lula, os dois estarão no mesmo palanque?

Britto – Teria constrangimento se eu já não tivesse votado no Lula em 1989. Votei com muita convicção no Lula e votaria de novo.

ZH – Mas em 1989 o PT não era seu adversário como é agora.

Britto – Quando a gente se propõe a fazer política e começa a fazer política com o fígado, acabou de perder a condição de fazer política. Os meus votos, pelo menos, são sempre presididos pela resposta à seguinte pergunta: o que eu acho melhor para o Rio Grande e para o Brasil? Se o Lula for o melhor para o Brasil no segundo turno, vou votar nele com muita convicção.

ZH – Mesmo tendo maior identificação política com José Serra, se for ele o adversário?

Britto – Eu não sei quem vai para o segundo turno. Espero que seja o Ciro e que o Ciro me poupe das dificuldades que eu tive em 1989, em 2000. Mas eu votei com muita convicção no Lula em 1989, no Collares em 1990 e no Collares para prefeito em 2000.

ZH – Qual será o eixo da sua campanha?

Britto – Eu acho que nós estamos vivendo uma eleição histórica porque ela encerra um ciclo. O Rio Grande talvez seja o único estado brasileiro onde, de 1982 para cá, todos os partidos principais passaram pelo poder, comandando ou participando decisivamente de coligações. Esta é a primeira eleição em que não há candidato virgem. Então acho que é hora de a gente pensar o seguinte: se todos os partidos passaram pelo Piratini de 82 a 2002 e alguns problemas não foram resolvidos é porque a solução exige um clima de desarmamento, de diálogo, de maior compreensão. Eu não consigo imaginar uma solução para um problema do IPE, por exemplo, sem que se construa um consenso espanhol, como foi o Pacto de Moncloa. A segurança pública precisa de carro, gasolina, colete, arma, mas nesse momento o que a segurança mais precisa é ser devolvida ao pessoal da segurança pública. Eu, se for eleito, a primeira coisa que vou fazer é reunir os comandos da Brigada Militar, da Polícia Civil, do Instituto de Perícias, e avisar que eles voltam a mandar na segurança e que não será preciso ser filiado a partido para conseguir promoção ou postos de comando.

ZH – O senhor diria que segurança é o problema número 1 do Estado?

Britto – O Rio Grande vive nesse momento dois grandes problemas. O primeiro é o da segurança. O segundo é que, apesar das boas safras e do câmbio favorável às exportações, nós estamos com uma economia que não gera indústrias e impostos capazes de sustentar a prestação de serviços públicos e a geração de empregos. Os dois problemas nascem de um problema político que é este clima de intolerância que o PT criou. Eu não desejo contribuir para isso adotando uma postura de terceiro turno. Eu não estou indo para o terceiro turno. Eu chego a esta eleição diferente, amadurecido, sofrido e tendo aprendido muito com os quatro anos em que fui governador.

ZH – Que lição que o senhor tirou da derrota de 1998?

Britto – A derrota me fez um grande favor. Ela me mandou de volta para a rua. Essa experiência de ficar três anos na planície, ouvindo as pessoas, me ajuda a pensar que talvez nós dentro dos partidos não percebemos que a sociedade está querendo resultados e os resultados não virão da ditadura partidária. Virão de um comovente esforço suprapartidário. Eu, se for eleito governador, não terei comissões de investigação sobre o PT, não terei devassa, não tenho revanche a fazer, como fizeram comigo. Eu não quero passar para a história como quem pega uma Ford quase em obras e manda para a Bahia. O PT infelizmente não está deixando muitas “Fords”, mas se deixar alguma vai ser concluída.

ZH – O senhor teme a comparação entre o seu primeiro governo e um eventual segundo mandato, em que não terá o dinheiro extra das privatizações?

Britto – As circunstâncias de 2003 serão muito piores do que em qualquer outro momento da História do Rio Grande. Este governo do PT abortou a industrialização, que é a única forma de aumentar a receita do Estado. Nós deixamos contas em dia, dinheiro em caixa e financiamentos internacionais assegurados que fizeram as poucas obras que o governo conseguiu tocar. Nada disso vai estar disponível. Eu, se for governador, vou procurar unir forças. Não tenho no PPS pessoas em número suficiente para montar o governo. Graças a Deus, o PPS é pequeno. Eu vou ser obrigado, se governador, a convidar gaúchos não-partidários e de outros partidos para tentar, a partir da equipe, corresponder a essa idéia de que nós precisamos fazer um governo que não seja um governo de vingança, um governo de terceiro turno, mas que marque o início de uma nova etapa.

ZH – Seus adversários apontam como um problema da sua candidatura o fato de trabalhar para o Banco Opportunity. Como vai explicar isso aos eleitores?

Britto – Eu estaria enormemente preocupado se eu estivesse que explicar que saí do governo sem precisar trabalhar.

ZH – Mas essa relação com o Opportunity vai continuar?

Britto – Eu não trabalhei em nenhum momento para nenhuma empresa diretamente. Eu prestei consultoria a algumas empresas e, no caso específico do Banco Opportunity, havia a necessidade de tentar reorganizar o setor de telecomunicações, uma área em que eu tenho algum conhecimento. Prestei sim consultoria e tenho enorme orgulho de ser uma pessoa que precisa trabalhar e consegue trabalhar.

ZH – O senhor teme que o PTB possa ser alvo de uma intervenção do diretório nacional por defender a aliança com o PPS?

Britto – O PTB vem manifestando há muito tempo a preferência por uma coligação com o PPS. Eu vejo com profunda tristeza que o Rio Grande, em pleno 2002, esteja vivendo um episódio parecido com a ditadura, quando a gente ficava colado no rádio, com enorme expectativa, querendo descobrir quem Brasília ia nos mandar para governador. Não pode mais ser assim. O único lugar onde alguém está sendo tratado como o PTB é naquele núcleo muçulmano da novela O Clone. Lá o tio Ali escolhe quem é que vai ser o marido, quem é que vai ser a esposa. Estão tentando cassar a liberdade do PTB de escolher. Eu me sinto extremamente confortado e confortável com o já obtido, que é esse apoio, este entusiasmo do PTB do Rio Grande.

ROSANE DE OLIVEIRA
 
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