Recordes olímpicos costumam ser duradouros - afinal, os Jogos só ocorrem de quatro em quatro anos (em contrapartida, as marcas mundiais são quase sempre melhores, uma vez que podem ser obtidas em qualquer ocasião). Mesmo assim, é de se espantar a quantidade de recordes do atletismo que já persistem por duas décadas ou mais. São 17 ao todo, 11 deles estabelecidos em Seul/1988.

A marca olímpica mais antiga vai fazer aniversário de 40 anos em Pequim. Nos Jogos da Cidade do México/1968, o americano Bob Beamon atingiu incríveis 8m90cm no salto em distância. A façanha do atleta perdurou até 1991, quando o também americano Mike Powell pulou cinco centímetros a mais, no Mundial de Tóquio.

Segundo Nélio Moura, técnico da brasileira Maurren Maggi no salto, a marca alcançada por Beamon é "extremamente difícil" de ser batida em Pequim. Ele acredita que o fator altitude da Cidade do México - são 2.300m - tenha contribuído para a manutenção do resultado obtido na época.

— Desde lá, nunca tivemos uma Olimpíada num lugar tão alto. Quando se compete em grandes altitudes, a resistência do ar é menor. Isso ajudou Bob, ainda mais que competia numa modalidade que não exige oxigenação imediata das células — explica Nélio.

— Fora que não é sempre que surge um atleta excepcional como Bob.

Na maratona masculina, a marca já dura 24 anos, desde que o português Carlos Lopes completou a prova em 2h9min21s na Olimpíada de Los Angeles. Aqui, a explicação é simples: diferentemente das outras modalidades, nas quais o atleta normalmente faz inúmeras tentativas até chegar ao ponto máximo, a maratona exige que o atleta obedeça seus limites para evitar lesões.

— Quem disputa uma olimpíada corre atrás de medalha, e não de marca. Ninguém quer correr o risco de não subir ao pódio por ter se machucado — diz o brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima, bronze em Atenas/2004, com o tempo de 2h12min11s.

O técnico de Vanderlei, Ricardo Dângelo, acrescenta que a maratona é uma competição que não depende apenas de fatores relativos ao atleta, como o tipo de treinamento:

— As condições climáticas e geográficas são decisivas. Em Los Angeles, o percurso era totalmente plano, sem subidas nem decidas, favorecendo o recorde. Desde lá, nunca tivemos um trajeto tão favorável.