| 26/10/2005 19h17min
Fotógrafo profissional aposentado e fazendeiro, Bruno Alexandre von der Leyen, 52 anos, sonhava com uma aposentadoria tranqüila. Mas agora vive um pesadelo. Na sua fazenda há 12 dos 19 animais suspeitos de terem trazido o vírus da febre aftosa de Mato Grosso do Sul ao Paraná. Próximo à porteira de sua propriedade, a Fazenda Santa Izabel, uma gleba de mil hectares onde há um rebanho de 800 cabeças em Grandes Rios (PR), Leyen falou a Zero Hora. Leia trechos da entrevista:
Zero Hora - Dos 19 novilhos sob suspeita de terem trazido o vírus da febre aftosa de Mato Grosso do Sul ao Paraná, o senhor é dono de 12. Correto?
Bruno Alexandre Von Der Leyen - Correto. Comprei os animais com a garantia do governo de que estava trazendo bichos com saúde para a minha propriedade. A compra foi em um evento de nome, o Leilão das 10 Marcas, na Expozebu, em Londrina. Eu me sinto traído.
ZH - Os olhos de todos os produtores paranaenses estão voltados para as quatro propriedades que compraram as 19 cabeças no leilão, e a sua abriga o maior número. Como se sente?
Leyen - Tenho recebido telefonemas de solidariedade de amigos e até de pessoas que não conheço. Sou vítima da falta de zelo de alguém que é pago para evitar que coisas desse tipo aconteçam. A minha vida mudou: não posso sair da propriedade nem para comprar jornal. Vivo em constante expectativa para saber o que irá acontecer.
ZH - O resultado dos exames dos animais ainda não estão prontos. Se forem negativos, a sua vida volta ao normal?
Leyen - Nunca mais. A suspeita de aftosa já causou um dano moral e econômico que dificilmente será apagado. Investimos cinco anos e dinheiro na nossa marca. Já tínhamos conseguido uma distinção que nos permitia colocar 20% sobre o preço do nosso gado. Foi tudo para o espaço.
ZH - E se o resultado dos exames forem positivos?
Leyen - O governo vai sacrificar os animais. Mas gostaria de deixar bem claro o seguinte: independe do resultado do exame. Já sofremos o dano porque alguém falhou.
ZH - Como o senhor acha que o governo do Estado está conduzindo esta situação?
Leyen - Está fazendo o correto. Mas estou preocupado com a declaração na mídia do Pessuti (Orlando Pessuti, secretário da Agricultura e Abastecimento do PR) que afirma existir um foco na minha fazenda. É uma suspeita. Essas declarações estão me tirando o sono a ponto de pensar que vou ser tirado para bode expiatório de uma série de erros dos órgãos de controle de sanidade animal.
ZH - O senhor pretende processar o governo estadual?
Leyen - Não sei. Depois que tudo terminar, vou pensar nisso. Só quero acordar desse pesadelo. Tinha sonhado viver uma aposentadoria tranqüila. Agora,
estou no meio desse rolo.