| 20/10/2005 23h09min
Os promotores José Reinaldo Carneiro e Roberto Porto, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), disseram nesta quinta que investigarão a pressão de dirigentes sobre árbitros de futebol para manipular resultados de partidas.
– O caso de Heber Roberto Lopes (árbitro do Paraná que apitou 16 jogos da Série A do Campeonato Brasileiro) é de pressão de dirigentes. Nada tem a ver com a máfia do apito – garante Carneiro.
Heber foi citado pelo empresário Nagib Fayad, o Gibão – réu confesso no escândalo da arbitragem –, em depoimento à CPI dos Bingos.
Carneiro e Porto comandaram as investigações que descobriram o escândalo que acabou provocando a anulação, pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), de 11 jogos do Brasileirão apitados pelo ex-árbitro Edílson Pereira de Carvalho, outro réu confesso.
Muitos torcedores e dirigentes de futebol têm criticado a anulação das 11 partidas, mas os promotores defendem a decisão do STJD.
– Melhor que tenha sido assim. Esses árbitros que manipularam os resultados mentem muito. Podem estar mentindo quando dizem que não tiveram influência em um ou outro jogo – afirma Carneiro.
Para os promotores, o esquema de fraude no futebol é mais antigo e amplo do que se pensava anteriormente. Eles acreditam que as investigações possam encontrar novos árbitros envolvidos no esquema.
Carneiro afirmou que o ex-árbitro Edílson Pereira de Carvalho pode ter feito “jogo duplo” na fraude de manipulação de resultado em partidas de futebol. Nesta hipótese, Edílson recebia dinheiro da máfia do apito para beneficiar determinado time, mas também apostava por conta própria. Se os resultados não fossem semelhantes, o ex-árbitro criava alguma justificativa para ficar com o dinheiro da máfia.
Heber Roberto Lopes apoiou a decisão do presidente da Comissão Nacional de Arbitragem, Edson Rezende, de não escalá-lo para o sorteio dos jogos da 33ª rodada do Campeonato Brasileiro. O objetivo de Rezende foi preservar o árbitro após as acusações feitas pelo empresário Nagib Fayad, o Gibão, no depoimento na CPI dos Bingos.
Gibão, indiciado como um dos mentores do esquema de manipulação de resultados na competição, disse que a partida entre Botafogo e Juventude, em 11 de junho, poderia ter sido “contaminada” por Heber. Mas não apresentou provas para as acusações.
– Se fosse escalado, não haveria problema. Mas aceito e entendo a posição da Comissão Nacional de Arbitragem. Edson me telefonou, deu-me apoio e disse que seria importante me preservar porque haverá jogos mais importantes para frente. Se existe alguém interessado para esclarecer essa situação sou eu – disse Heber, que pretende processar Gibão.
Heber Roberto Lopes volta normalmente a participar do sorteio na próxima rodada. Edson Rezende deixou bem claro que, sem provas, não duvida da honestidade do árbitro, que pertence ao quadro da Fifa.
– A vida continua. Não é por causa de duas pessoas que vou parar. Quando não deve teve, não teme. Só estava prejudicado com a repercussão negativa. Nunca tive envolvimento com essas pessoas – completou Heber.
DIÁRIO GAÚCHO