| 23/08/2005 18h11min
Em depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) do Mensalão, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, voltou a reconhecer que usou dinheiro não contabilizado do PT, oriundo de caixa dois, na campanha eleitoral em 2002.
Segundo o ex-deputado, dos R$ 10 milhões que tinham sido prometidos pelo PT, foram repassados R$ 6,5 milhões. Costa Neto disse que recebeu os recursos e não os repassou para deputados ou diretórios do PL. O dinheiro, informou, foi usado na campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno das eleições.
– Então foram recursos não contabilizados na campanha do presidente Lula? – indagou o deputado Fernando Coruja (PPS-SC).
– É verdade, porque eles me pagaram depois e eu pensei que eles fossem me doar o dinheiro oficialmente – respondeu Costa Neto.
O ex-deputado afirmou, porém, que nunca tratou de recursos financeiros com Lula.
– Quando eu falei (em entrevista à revista Época ) que o presidente Lula sabia do acordo (de R$ 10 milhões entre o PT e o PL na campanha de 2002), eu disse que o que ele sabia era do acordo político, do apoio. Ele jamais negociou comigo – garantiu.
De acordo com Costa Neto, dos R$ 6,5 milhões recebidos do PT, R$ 1,2 milhão foi pago através da empresa Guaranhuns, suspeita de participar do esquema de lavagem de dinheiro montado por Marcos Valério e de fazer remessa ilegal de dinheiro para o Exterior. O restante chegou, segundo o depoimento, em cheques da SMP&B, agência de publicidade de Valério.
Costa Neto negou que conhecesse a Guaranhuns, sobre a qual garantiu nunca ter ouvido falar. Mas, em nota divulgada à imprensa nesta terça-feira, Valério reafirma que a empresa lhe foi apresentada pelo então tesoureiro do PL, Jacinto Lamas. Segundo a nota, os repasses feitos ao PL, sob a orientação do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, totalizaram R$10.837,5, mais do que os R$ 6,5 milhões que Costa Neto diz ter recebido.
O ex-deputado, em seu depoimento, contou que só tem recibo de R$ 1,7 milhão do dinheiro que recebeu do PT, repassado por Delúbio.
– Há recibos de R$ 1,7 milhão dos R$ 6,5 milhões em saques do Banco Rural. Reconheço que R$ 4,8 milhões foram entregues sem nenhuma comprovação. Delúbio pediu que eu fosse ou mandasse um interlocutor para a agência SMP&B e falasse com a dona Simone (Vasconcelos, diretora financeira da agência) – disse Costa Neto.
O presidente do PL informou que a aliança com o PT "arrebentou" as finanças do seu partido. O dinheiro prometido pelo PT, segundo ele, só chegou depois das eleições, e mesmo asim em quantidade menor do que o que tinha sido acertado anteriormente.
– Como os R$ 10 milhões que seriam repassados pelo PT não vieram, a única chance que tínhamos era se o Lula ganhasse a eleição. Porque tínhamos arrebentado com o partido (PL) com a coligação. Ficamos quatro anos nos preparando para fazer 5% e fizemos 4,3% por falta de recurso – comentou Costa Neto, referindo-se à representação política no Congresso para ter direito ao fundo partidário, de acordo com a legislação vigente.
Indagado sobre se nunca desconfiou da origem do dinheiro que recebia do PT, Costa Neto voltou a afirmar que foi induzido ao erro e que não tinha até então motivo para desconfianças.
– Nunca me preocupei nem tive motivo para desconfiar da origem do dinheiro do PT. Sempre trabalhavam seriamente, só tratavam com gente de bem – disse.
Costa Neto afirmou ainda que o acordo dos R$ 10 milhões entre PL e PT não foi feito para garantir a aliança. Segundo ele, o acertado foi uma participação nos recursos da campanha. Assim, proporcionalmente, dos R$ 40 milhões destinados a cobrir os gastos com a disputa eleitoral, R$ 10 milhões iriam para PL, já que o PT tinha 59 deputados e o PL, 23.
– É um acordo político em qualquer aliança que você faça – explicou.
AGÊNCIA O GLOBO