| 28/07/2005 10h03min
Eram 5h de ontem em Alegrete, na região da fronteira oeste do Rio Grande do Sul, quando o serigrafista Luís Fernando Ferreira da Rosa, 34 anos, perdeu o sono. O motivo era o mesmo que o angustia nos últimos 18 meses: a falta de condições para continuar estudando.
Ontem, porém, a carga de ansiedade era maior. Não bastassem os 300 quilômetros de estrada até Bagé, Rosa tinha pela frente uma tarefa árdua: furar o cerco da segurança e entregar um bilhete ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Casado e com cinco filhos, Rosa foi obrigado a trancar os estudos quando cursava o sétimo semestre de Direito na Urcamp. Antes de estudar, ganhava R$ 1,2 mil mensais tingindo camisetas. O ingresso na universidade obrigou-o a reduzir o tempo de trabalho. Passou a ganhar apenas R$ 500 por mês, dos quais metade destinava à Urcamp. Já acumula uma dívida de R$ 6 mil com a instituição.
– Não tive mais como continuar pagando. Até me ofereci para prestar serviços, mas o máximo que consegui foi uma bolsa de 50% – contou.
Desde então, mesmo sem estar matriculado, Rosa freqüenta as aulas todos os dias. A insistência já lhe valeu apelos desolados dos professores e cartas intimidadoras da direção da universidade.
– Eles não aceitam que eu vá à aula sem estar pagando. Mas eu vou, estudo em casa e até faço as provas. Só que os professores não corrigem nem me devolvem. É um constrangimento – lamentou o serigrafista.
A esperança sorriu para Rosa quando o presidente Lula, do alto do palanque, respondeu a um aceno daquele homem negro espremido contra as grades de proteção. Um assessor apanhou o bilhete das mãos do serigrafista, e Lula leu o pedido diante das cerca de 30 mil pessoas que lotavam o entorno da Praça Silveira Martins. O recado no papel amassado era direto: "Só Deus e o senhor podem me ajudar. Preciso estudar e não tenho dinheiro".
Lula se dirigiu ao ministro Tarso Genro. ao governador Germano Rigotto e ao prefeito de Bagé, Luiz Fernando Mainardi, e sugeriu uma parceria que resolvesse o problema de Rosa. Que sorriu aliviado:
– Depois de tanto tempo, vai ser a primeira vez que volto para casa feliz, sem passar vergonha.
ALEXANDRE ELMI/ZERO HORA