| 28/06/2005 07h
O prefeito de Passo Fundo, Airton Dipp (PDT), presidente dos Correios entre fevereiro e dezembro de 2003, negou ontem ter recebido R$ 600 mil do diretor da empresa Promodal, de transporte aéreo de cargas noturno, para que a companhia fosse favorecida em um contrato com a empresa.
A denúncia, feita por Luiz Otávio Gonçalves, presidente da Skymaster, concorrente da Promodal, foi divulgada na edição desta semana da revista Época.
– Estou disposto a ter investigada toda a minha vida enquanto fui presidente dos Correios. Se quiserem, meus sigilos bancário e fiscal estão à disposição. Aliás, sou da opinião de que ocupantes de importantes cargos públicos devem ter suas contas sempre à disposição da Justiça – disse o prefeito, em entrevista coletiva, sustentando que até hoje não foi chamado para qualquer esclarecimento em relação a sua administração.
Dipp assegurou que tomará medidas legais contra Gonçalves pelo que classificou ser uma denúncia "caluniosa e inverídica". O ex-presidente da instituição disse que, ao assumir a gestão, foi alertado pelos próprios colegas de trabalho de que "a questão dos vôos noturnos era delicada":
– Quando assumi o compromisso de rever as contas e fazer nova licitação, pois considerava o valor superfaturado, muitos me questionaram se eu realmente queria me meter nesse assunto, porque o relatório da comissão de transição do presidente Lula havia apontado irregularidades nos contratos.
A Skymaster era dona do contrato de transporte noturno desde 2001 e faturava R$ 105 milhões por ano. Dipp e o ministro das Comunicações da época, Miro Teixeira, consideraram o valor exagerado e solicitaram a revisão dos contratos. Todas as empresas do setor baixaram os preços, exceto a Skymaster. Segundo a reportagem da revista Época, a redução de preços seria uma desculpa dos Correios para forçar uma nova licitação e colocar a concorrente Promodal no páreo.
A renegociação dos contratos era orientada por um ''consultor externo'' dos Correios, o brigadeiro Venâncio Grossi, que fora indicado ao cargo por Dipp. Grossi era encarregado de dizer quanto cada empresa deveria receber por quilômetro voado. A Skymaster afirma ter dezenas de recibos mostrando que a Promodal bancava as despesas do consultor dos Correios quando este estava em Brasília.
Entre julho e novembro de 2003, todas as vezes em que o brigadeiro viajou para a Capital para assessorar os Correios, os gastos com hospedagem, restaurante e até lavanderia teriam sido pagos pela Promodal.
– Não ponho minha mão no fogo por ninguém, mas indiquei Grossi com a absoluta convicção de que o seu trabalho como membro da Comissão de Aviação Civil da Câmara Federal, cargo que ele desempenhava anteriormente, era da maior competência e hombridade – observou o prefeito.
LÚCIA JARDIM/ZERO HORA