| 25/02/2005 13h33min
As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre atos de corrupção durante o governo de Fernando Henrique Cardoso foram o principal tema da manhã desta sexta, 25, no Senado. Em visita ao Espírito Santo nesta quinta, Lula afirmou que, no início de seu mandado, "um alto companheiro" teria lhe dito que "o processo de corrupção" em governos anteriores havia sido muito grande.
A Presidência não deve publicar nota oficial sobre o tema, mas a orientação seria para que líderes do PT esclarecessem o episódio. Na manhã desta sexta, o líder do partido no Senado, Delcidio Amaral (MS), explicou porque Lula manteve sigilo. Segundo o senador, a decisão ocorreu para evitar a fuga de investidores estrangeiros e um clima de desconfiança em relação ao governo do PT.
Amaral afirmou que Lula e o então presidente do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa, conversaram sobre a compra da Eletropaulo pela empresa norte-americana AES, em 1997. O senador disse que o negócio envolveu um empréstimo do BNDES de US$ 1,4 bilhão. Com o racionamento de energia em 2001, as empresas do setor passaram por uma crise financeira. Na época, Lessa teria dito ao presidente – segundo relatou Amaral – que, por causa da crise vivida pela AES, o banco teria de lançar uma dívida em dezembro de 2003 da ordem de US$ 2 bilhões. Após esse episódio, afirma Amaral, o BNDES iniciou renegociação com o setor – a AES ficou com 50,01% das ações da Eletropaulo, e o governo federal, com outros 49,99%.
Nesta quinta, líderes da oposição afirmaram que havia elementos para processar Lula caso ficasse comprovado que o presidente não providenciou investigação sobre a suposta corrupção.
Na manhã desta sexta, o senador Jefferson Peres (PDT-AM) apresentou requerimento à Mesa Diretora do Senado pedindo a convocação do ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, para explicar as declarações de Lula. Já o líder do PSDB, Arthur Virgilio Neto (AM), propôs um voto de censura da Casa
ao presidente. Virgílio
quer que o Senado processe Lula por crime de responsabilidade.
O 1º vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), anunciou que o requerimento de voto de censura de Virgílio será remetido à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania.
Em Buenos Aires, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, disse nesta sexta que não ficou surpreso com as declarações de Lula e afirmou que o PSDB, que fala em pedir o impeachment do presidente, pode ver "o feitiço virar contra o feiticeiro". Dirceu também acusou os tucanos de quererem criar um clima de instabilidade política no país.
- Investigações são feitas pelo Congresso Nacional, nós sabemos como começa mas não sabemos como termina, disse.
Virgílio respondeu ao chefe da Casa Civil, em pronunciamento no Senado.
– Com isso, ele está dando a entender que há caso de corrupção e que, se isso vier à tona, as responsabilidades poderão virar contra supostos integrantes do meu partido ou do governo passado. Ou seja, se o presidente Lula prevaricou antes, o ministro Dirceu prevarica depois, porque dá a entender aqui que também tinha conhecimento do malfeito e que teria provado também ele a inércia do presidente diante da denúncia.
Com informações do Globo Online, Agência Brasil e Agência Senado.