| 10/05/2001 11h11min
O dono do Frigorífico Fritzer, com sede em São José na Grande Florianópolis, está de olho na reunião dos secretários e Ministério da Agricultura nesta quinta-feira em Brasília. A torcida de Tales Kretzer é para que o governo catarinense afrouxe a proibição no ingresso de animais vivos vindos do território gaúcho. Kretzer era cliente de pecuaristas do Rio Grande do Sul. Até o último fim de semana, quando a divisa do Estado foi lacrada, o industrial trazia 30 toneladas de carne com osso por semana da região de Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai. É a zona onde surgiu o foco recente da doença, mas Kretzer passaria a comprar o produto de outras zonas da pecuária gaúcha. Sem a carne, o industrial não teve outra escolha: mandou para casa, em férias, 20 dos atuais 40 funcionários da unidade. Só ficou a mão-de-obra para distribuir o produto que hoje é trazido do Centro-Oeste do país já desossado. A história de Tales Kretzel é um bom exemplo do efeito dominó da crise da aftosa no Sul. A família, há 23 anos no setor frigorífico, já industrializou 800 toneladas mensais de carne com osso. Foi há dois anos, quando a matéria-prima vinha do Uruguai. Aos poucos, com a alta do dólar, a carcaça uruguaia foi trocada pela gaúcha, mas em menor escala. Do segundo semestre de 2000 até agora, com o registro do primeiro foco da aftosa no Rio Grande do Sul e o fechamento da divisa até o fim do ano, Tales Kretzer teve de tomar a medida mais dura: reduziu de 90 para 40 o número de empregados. Era o pessoal da desossa. O forte do frigorífico é fazer os cortes na medida que a clientela de açougues e supermercados quer. Com osso ou sem. Sem a carne vinda do RS, não tem emprego no Fritzer. Agora, o industrial está numa sinuca. Se não houver flexibilidade na divisa de Santa Catarina, o dono da unidade terá de depender exclusivamente dos vendedores do Centro-Oeste. Pior: muitos já estão entregando direto aos pontos de venda com o mesmo preço que Kretzer oferece.