| 25/02/2004 09h53min
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva define nesta quarta, dia 25, a estratégia do governo para superar caso Waldomiro Diniz. A partir das 15h, o presidente se reúne com o núcleo político do governo. Estarão presentes ao encontro os ministros da Casa Civil, José Dirceu, da Fazenda, Antonio Palocci, e da Coordenação Política, Aldo Rebelo, além do secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci.
O governo busca estratégia para impedir que os desdobramentos do caso Waldomiro Diniz paralisem a agenda do Congresso e atrasem a tramitação de projetos importantes. No encontro, também serão avaliados os efeitos da medida provisória dos bingos.
O governo garante ainda não ter encontrado indícios da atuação criminosa do ex-assessor de Assuntos Parlamentares da Casa Civil durante o período em que ele ocupou o cargo. Com isso, a estratégia do Planalto daqui para frente deve priorizar uma agenda positiva e tentar desviar a associação do caso com atos de governo.
Além de discutir quais pontos destacar nesta agenda, os ministros devem ouvir, de Rebelo os primeiros resultados da comissão de sindicância instalada na semana passada. Até o momento, os integrantes da comissão não localizaram nenhuma ação ilegal de Waldomiro durante o período em que ele esteve atuando no governo. A hipótese de afastamento temporário de Dirceu aventada por alguns após o início da crise, continua sendo refutada pelo governo. Waldomiro foi subordinado de Dirceu até a reforma ministerial do mês passado.
– Não existem provas contra ele, não faz sentido esse afastamento. Se surgirem indícios, o que acho difícil, daí a situação pode até ser analisada – disse um interlocutor do governo que não quis ser identificado.
Até agora, nada do que foi levantado pela comissão de sindicância leva a crer que Dirceu estava a par dos fatos, apesar do longo período, cerca de 12 anos, em que manteve relações profissionais ou de amizade com Waldomiro. Há duas semanas, a revista Época divulgou reportagem citando um vídeo gravado em 2002 no qual Waldomiro pede propina e contribuição para as campanhas de três candidato a governos estaduais - dois deles do PT - a um bicheiro ligado ao ramo dos bingos.
Na ocasião, Waldomiro era presidente da Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj). Logo após a divulgação das denúncias, o governo se aprumou em desmentir qualquer relação do caso com a atuação de Waldomiro no Palácio do Planalto e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou sua exoneração. Segundo investigação do Ministério Público, porém, Waldomiro continuou mantendo contatos com o bicheiro durante sua permanência no governo.
O feriado do Carnaval deu alguma folga ao governo, um pouco de tempo para refletir sobre o encaminhamento da crise nas próximas semanas, quando a oposição deve retomar com força total ao ataque. A principal preocupação do governo, até agora, é evitar que a crise contamine a economia. Durante o feriado, em Brasília, o presidente recebeu poucas pessoas no Palácio da Alvorada e na Granja do Torto, onde descansou com parentes de Garanhuns (PE), sua cidade natal. Na terça, porém, recebeu Palocci.
Dirceu preferiu sair da cena de Brasília e passou o feriado em São Paulo com a família. Não compareceu a nenhum compromisso público. Ele retornou à Brasília na noite de terça, com uma expressão menos abatida do que a que exibia na semana passada. Durante todo o vôo entre São Paulo e Brasília, que dura cerca de uma hora e meia, praticamente não desgrudou os olhos da biografia de Winston Churchil, primeiro-ministro britânico durante a Segunda Guerra Mundial.
Até o surgimento do caso Waldomiro, Dirceu foi informalmente chamado de "primeiro-ministro" por parlamentares e jornalistas, tamanha sua influência dentro do governo Lula. A expressão desagradava profundamente o presidente e os demais membros do ministério.
Dirceu deve receber nos próximos dias outras manifestações de apoio, como no jantar da semana passada na casa do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). Esta semana deve acontecer outro jantar, desta vez nesta na casa do ministro das Comunicações, o peemedebista Eunício Oliveira). O PT prepara uma série de atos para o próximo dia 3.
Esse tipo de manifestação também está dividindo os integrantes do governo e os aliados. Alguns acreditam que seria colocar mais lenha na fogueira ao invés de tentar retirar o foco da crise do Palácio do Planalto.
– O PT, infelizmente, levou essa crise mais para dentro do Palácio do Planalto do que devia. O ideal agora é afastá-la de lá – disse um importante aliado do governo à agência Reuters.
Outra medida que divide as opiniões foi a decisão do presidente de editar uma medida provisória (MP), na sexta passada, que proíbe o funcionamento dos bingos no país. A MP já está sendo contestada por várias liminares expedidas em Santa Catarina e São Paulo. A Advocacia Geral da União (AGU) está trabalhando para derrubar as decisões judiciais e garantir o cumprimento da medida provisória.
As informações são da agência Reuters.