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 | 09/07/2010 05h13min

Da glória à cadeia: miséria, falta da família e lealdade a amigos marcam história de Bruno

Goleiro do Flamengo está preso por suspeita de envolvimento no sequestro de ex-amante

Bruno Fernandes das Dores Souza nasceu dois dias antes do Natal de 1984 e, em vez de um presente, teve uma recepção ao avesso. Como seus pais acreditavam não ter condições financeiras de criar o menino, o bebê foi doado à avó paterna, Estela Trigueiro de Souza.

Tinha apenas três dias de vida e uma remota chance de ganhar notoriedade. Ganhou, para o bem e para o mal. Como goleiro do Flamengo, conquistou três campeonatos estaduais, um nacional e um lugar no coração da maior torcida do Brasil. Na vida pessoal, se envolveu num festival de traições e brigas que culminaram com sua prisão por envolvimento no sequestro de Eliza Samudio.

O ídolo flamenguista nasceu em uma vila de Belo Horizonte e nunca escondeu isso. Parecia nutrir uma ponta de orgulho por ser um sobrevivente. Ao ameaçar Eliza, caso ela não abortasse o filho que afirmava ser dele, ele disse, segundo as palavras dela:

– Não quero esse filho. Você não sabe do que sou capaz. Venho da favela.

Criado pela vó em Ribeirão das Neves, cidade mineira de 340 mil habitantes, Bruno descarregou caminhões e vendeu picolés. A redenção da miséria veio pelo futebol. Começou nas categorias de base do Cruzeiro. Dispensado, foi jogar no obscuro Tombense, de onde saiu para Atlético-MG. Virou titular em 2005 e logo foi para o Corinthians. Em 2006, migrou para o Flamengo.

Bruno só conheceu os pais após virar jogador

Bruno só reviu os pais quando virou jogador. Conheceu o pai, o caminhoneiro Maurílio de Souza, aos 18 anos. Menos de um ano depois, o pai morreu. Na época em que jogava no Corinthians, o goleiro foi apresentado à mãe, Sandra Cássia, que morava na Bahia. Descobriu que ela tinha problemas com alcoolismo e ajudou a pagar internação dela numa clínica.

O goleiro guarda mágoas. Numa entrevista, afirmou que jamais abandonaria os filhos. Quando convidado por outro repórter a mandar um recado para Sandra no Dia das Mães, encheu o jornalista de palavrões.

A falta de família fez com que Bruno fosse fiel a amigos de infância. Desde criança convive com três dos suspeitos de envolvimento no sumiço de Eliza: Luiz Henrique Romão, o Macarrão, Elenilson Vitor da Silva e o primo adolescente de 17 anos, o único até agora a admitir que Eliza foi assassinada.

Bruno ainda era adolescente quando conheceu Dayanne, com quem casou e teve duas filhas. Eles se separaram e voltaram ao convívio várias vezes. Após uma dessas brigas, em 2009, o goleiro ficou com Eliza numa festa que descreveu como “orgia”. Meses depois, ela anunciou que estava grávida dele.

Lealdade de longa data com amigo Macarrão

Briguento, tirava satisfações dos colegas. Em 2009, na derrota sofrida para o Universidad Catolica de Chile, em Santiago, o goleiro tentou agredir o colega Petkovic. Quando o jornal Extra publicou acusações de Eliza de que fora sequestrada por Bruno, o goleiro tentou descobrir quem era o autor da reportagem, para fazê-lo “engolir o jornal”.

O único em quem Bruno dizia confiar plenamente era Macarrão. A gratidão tinha motivo: ele ajudava o goleiro a conseguir dinheiro para almoço e transporte até os treinos, doando parte do salário que ganhava na Ceasa como carregador. Uma amizade que persiste até atrás das grades: mesmo presos, nenhum implicou o outro no desaparecimento de Eliza.

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