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 | 17/06/2010 06h10min

Só faltava essa: um apartheid de vuvuzelas

 




Já que tiraram a vuvuzela para Geni da Copa, solitariamente irei defendê-la dos que desejam amordaçá-la na marra, à força, na base do canetaço da Fifa. Não que isso faça alguma diferença ou tenha importância, mas está demais a corneta da corneta.

Calar a vuvuzela seria tão arrogante quanto mandar os argentinos fechar a boca em vez de cantarem o tempo todo quando a Copa voltar à Argentina. Ou proibir a gaita de foles em um Mundial na Escócia. E se alguém reclamar do barulho?

Mas vamos admitir, apenas por uma questão dialética, que a vuvuzela está, de fato, enfeiando a Copa. Na verdade não é nada disso. Na verdade os ocidentais estão aborrecidos com um hábito africano e agora resmungam.

Será que estes colonizados não aprenderam o que é bom ou ruim, agradável ou desagradável, bonito ou feito, apropriado ou impróprio? Puxa, mas a gente ensinou durante tanto tempo? É mais ou menos este o sentido do apartheid das vuvuzelas.

Bem, mas admitamos que a vuvuzela que as crianças aprendem a soprar com os pais em suas casas na África do Sul seja mesmo um zumbido tão insuportável que aumentar o volume dos microfones direcionados para o campo seja insuficiente para captar o som da bola ou do apito do árbitro.

Se queriam condenar as vuvuzelas aos guetos, deixando-as de fora dos estádios, deviam ter pensado nisso antes.

Copa das Confederações foi realizada na África do Sul e no evento teste as vuvuzelas soaram exatamente como agora. Talvez até tenham gritado mais alto, já que o número de torcedores europeus era menor e as arquibancadas restaram tomadas de sul-fricanos.

Era só ter reclamado.

Dia destes, o Gabriel Moojen, que começou aqui na RBS TV e agora está lá na África pelo Sportv, abaixou-se diante de uma criança de 4, 5 anos. A África do Sul recém estreara na Copa empatando em 1 a 1 com o México. O menino estava de mãos dadas com o pai. Eis a entrevista, na mesma medida sucinta e comovente:

_ Gostaste do jogo?
_ Sim...
_ E qual o momento mais legal?
_ Quando saiu o gol nosso!
_ E qual a primeira coisa que te deu vontade de fazer quando saiu o gol?
_ Ah, tocar a minha vuvuzela!

Em seguida, o pai o incentivou a soprá-la. O menino tocou com toda a força capturada pelos pequenos pulmões para o câmera do Gabriel. O pai ficou todo orgulhoso.

Nós consideramos as vuvuzelas insuportáveis, uma tortura sonora, mas eles devem nos achar uns reclamões chatos por não relaxar e entrar na festa.

A África do Sul não é a Suíça.

 

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ZERO HORA
Gabriel Bouys, AFP / 

Calar a vuvuzela na África do Sul é o mesmo que probir a gaita de foles se a Copa fosse na Escócia
Foto:  Gabriel Bouys, AFP


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