| 12/05/2010 11h38min
Jorge Fossati recebeu na tarde de terça-feira três veículos de imprensa, entre eles o site Globoesporte.com, que publicou uma longa entrevista nesta quarta-feira. O técnico do Inter admitiu que ainda não se sente plenamente feliz em Porto Alegre, analisou o rendimento do time, demonstrou satisfação com os jogadores e abriu a possibilidade de pedir demissão durante a Copa do Mundo. O uruguaio afirmou que usará o recesso do Mundial para revirar sua memória, analisar o trabalho, pesar os prós e contras de ficar no Inter. Inicialmente, os prós são maiores. A tendência, segundo ele mesmo afirma, é de ficar. E por um motivo em especial, resumido em uma frase do técnico: “Vim ao Brasil para vencer”.
Confira algumas das declarações:
Pressão
"O que falei que nunca tinha vivido não é a pressão de vocês. É a cobrança, o nervosismo, a ansiedade, e o tipo de cobrança que parte da torcida tem com o time, especialmente com alguns jogadores, e com o próprio treinador. Eu procuro ser humilde nas minhas declarações, mas deveria colocar algum exemplo para vocês entenderem que esse tipo de pressão, nessa altura da minha vida, não muda nada. Eu sei que vocês têm até razões para olhar para meu país como uma coisa muito pequeninha. E é assim mesmo. É real, em temos de quantidade. Temos 3 milhões de habitante. Vocês têm isso em um bairro de São Paulo. Agora, a tradição, a história do futebol uruguaio tem que fazer vocês imaginarem o que é dirigir a seleção uruguaia. Talvez a grande diferença seja a quantidade. Lá são 3 milhões de treinadores. Aqui são 200 milhões. (...) Mas não vou fazer demagogia. O que eu tenho vivido como nunca vivi não é pressão em termos das entrevistas coletivas; é o que tenho percebido, como cultura geral do jornalismo daqui, de normalmente fazer a leitura negativa. A mesma realidade tem mais de uma leitura. Hoje, acho que o Rio Grande do Sul, que é representado por dois times, um na Copa do Brasil e outro na Libertadores, poderia estar orgulhoso. Os dois times chegaram
na final do Estadual, cada um ganhou uma taça, cada um ganhou uma final, o título ficou com o Grêmio, parabéns para ele, mas os dois estão se dando muito bem em termos de resultados. O Inter, humildemente, conseguiu os objetivos também. Quando o resultado é positivo, a leitura é de que não consegue fazer o tipo de futebol que gostaríamos de ver. Quando não conseguimos o resultado mas tem um monte de coisas boas que aconteceram, a prioridade da observação é o resultado."
Se está feliz no Brasil
"Não posso dizer que estou realmente feliz. Se dissesse, mentiria. Mas o que eu posso acrescentar é que na minha relação direta com o torcedor, as coisas são muito mais positivas do que vocês podem acreditar. Não sou muito de estar na rua. Não tem jogo que acaba e eu vou comemorar. Venho aqui com minha família, meus assistentes, até porque acabou o jogo, já estou pensando no outro. Não tenho tempo. E não gosto muito de multidão. Em tudo que é contato com o pessoal do Inter, recebo elogios que às vezes são bem grandes, que até não sei se mereço. Mas falta tempo. Falta tempo de poder desfrutar de momentos que temos. Falta tempo para eu jogar fora totalmente alguns momentos de cobrança feia, que dói, que eu já tive. Não é que você vai para outro jogo e esquece. Não é assim, não. Falta viver algumas coisas que espero poder viver. Mas não estou dizendo que essa felicidade é fácil, que consegui em todo lugar. Não. Normalmente, acontece com o tempo. Comigo, acontece com o tempo. Vou me sentido mais em casa e o pessoal vai me reconhecendo melhor."
Desafio no Brasil
"Eu vim para o Brasil, em um dos desafios mais importantes da minha carreira, especialmente porque não é o habitual, no Brasil, valorizar os treinadores de fora e trazê-los para o Brasil. Estou aqui para vencer, para conseguir mostrar meu trabalho e vencer onde, na história, poucos ou nenhum estrangeiro conseguiu."
O estágio atual do time
"Eu acho que, com maior entrosamento entre todos nós, e isso demanda tempo, tem situações que poderíamos fazer melhor. Eu vejo, partindo da diretoria, que eles têm autocrítica. Não é que vão por um caminho e nunca analisam se estão errados ou não. Nós também temos autocrítica. É isso que transmitimos aos jogadores. Sem autocrítica, nunca vai melhorar. Fizemos tudo excelente? Não. Tem muitas coisas que poderiam ser melhores. Mas também a diretoria e os jogadores têm feito muita coisa boa em 2010. Tem coisa para melhorar? Tem. Claro que tem. Acho que, normalmente, nos momentos de pausa, você tem que baixar a bola, colocar a bola no chão, olhar para trás, repassar tudo com autocrítica e aí dizer o que é preciso para continuar melhorando. Ou não. Se acha que não vai dar para continuar melhorando, é o momento de se afastar. É isso aí que acho que precisa ser feito agora, quando tivermos esse recesso. Temos que parar para pensar. Porque o fato de jogar a cada três dias vai acumulando coisas na tua memória, na tua cabeça, que você tem
que deixar na memória. Em um momento, essa memória tem que ser analisada. Ao analisar, tem que tomar decisões."
Possibilidade de sair do Inter
"Não é se vale a pena. Se vale a pena continuar no Inter? Sim, digo agora, vale a pena. Mas pode até ser que valendo a pena você pense que os caminhos não são os que você quer seguir. Aí tem que ser sincero, honesto, e sempre ter presente que você não é o importante. O importante é o clube. Independentemente de você, o clube tem que continuar, e o mais importante é que seja para frente. (...) Eu acho que o ideal é não tomar decisões no meio dos jogos. Tem que ser analisado quando tem tempo. Não estou dizendo que vou tomar a decisão. Se eu achar que não dá para continuar, vou dizer: 'Foi ótimo, mas por isso, por aquilo, prefiro ir para casa, curtir minhas filhas e ficar tranquilo com minha consciência de que sempre dei 110% ao Inter'. Hoje, não tenho tempo. A única coisa em que gasto meu tempo é olhar os vídeos do adversário. Não é uma ameaça. Quem sou eu para ameaçar o Inter? E também não é algo que estou esperando. Como disse antes, eu vim ao Brasil para vencer."