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 | 22/01/2010 07h34min

Leandro Damião era amador até 2008

"Quem jogou no Tupici pode jogar a Libertadores", garante

Jones Lopes da Silva  |  jones.lopes@zerohora.com.br

São os últimos dias de paz de Leandro Damião em passeios pelo shopping com a namorada Nádia. Em uma, duas semanas, cada passo fora do Beira-Rio do centroavante de 20 anos, espinha no rosto, sorriso envergonhado e 1m86cm de altura, confirmado no grupo da Libertadores, terá a perseguição de caçadores de autógrafos. Ele ainda nem tem essa preocupação.

Talvez porque fosse amador até há pouco, em 2008. Ganhava R$ 30 por partida e solucionava jogos empedrados de seus times que levam os prosaicos nomes de Família Tupici e de Nós Travamos. Era ele o melhor centroavante do bairro Jardim Ângelo, na zona sul de São Paulo. Foi goleiro até os sete anos. Mas invejava as comemorações dos atacantes e por isso mudou. Uma de suas últimas façanhas no subúrbio paulista foi decidir uma partida do Tupici contra o Capão Redondo em uma zona comandada por traficantes. Apanhou, bateu e saiu de campo fugido.

— Por isso não costumo arrepiar. Quem jogou no Tupici pode jogar a Libertadores — diz o atacante.

A família ficou em São Paulo, ele seguiu para Indaial e chegou ao Atlético, de Ibirama, ambos de Santa Catarina, antes de ser descoberto pelo Inter e viajado em seguida com os juniores para uma excursão à Itália, em 2009. Deslumbrados com suas passadas de longilíneo, os italianos de Torino apresentaram aos dirigentes na hora uma proposta de compra. Se saísse negócio, Leandro Damião já teria ficado na Europa desde o ano passado. De um ano a outro teria saído da várzea da conflagrada região sul de São Paulo para os finos campos da Itália. Prudentemente, o Inter recusou a negociação, do contrário ele não estaria dividindo com Walter as honras de estrela do time B.

Leandro não se importa de ser chamado por Damião. Antes de chegar ao Beira-Rio era conhecido como Leandrão, mas aqui foi batizado com o nome composto, que ele também aceita com indiferença:

— Podem me chamar de Damião.

No Beira-Rio o tratam de todas as formas. O técnico Fossati o chama de Leándro, mas ainda não o comunicou de sua inclusão no grupo que vai disputar a Libertadores. Leandro, ou Damião, sabe do assunto pelo que ouve falar. Não lê jornais e só hoje vai providenciar assinatura de internet em casa. Sua preocupação maior é com os últimos sucessos do grupo pagode Exaltasamba e com o videogame. Mas se reserva um momento de reflexão.

Três vezes por semana, ele telefona para a avó Acidália, 74 anos, em São Paulo. Recebe conselhos e indicações de passagens da Bíblia para que ele leia com a namorada em Porto Alegre.

Quase sempre são trechos que tratam sobre perseverança e humildade. Ele os lê com obediência e tenta colocá-los em prática: garante que nunca deixará de ser o mesmo Leandro, ou Damião, como queiram. Nem quando ficar ilhado em um shopping em meio a caçadores de autógrafos.

ZERO HORA
Valdir Frioin  / 

Leandro ganhava R$ 30 por partida na zona sul de São Paulo
Foto:  Valdir Frioin


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