| 08/01/2010 02h50min
Um episódio simples, ocorrido com a família Quadro, ilustra bem o clima que foi rompido a partir do momento que Grêmio e Inter se reuniram na cidade de 100 mil habitantes. Marcos e Derbe de Quadro trouxeram os filhos Gabriel, 10 anos, e Luísa, de seis, de Rio do Sul (SC) especialmente para a pré-temporada em Bento Gonçalves. Caminhavam pela rua na tarde de quarta-feira quando ouviram provocações de um grupo de gremistas para Gabriel, que vestia a camisa do Inter. Como precaução, atravessaram a rua.
– É uma pena. Quando há crianças é mais preocupante – lamenta Derbe.
No ano passado, a Dupla esteve simultaneamente na cidade por 11 dias sem incidente algum. Os atos de quarta-feira, portanto, supreenderam e viraram tema dos bate-papos locais. A ponto de mobilizar uma reunião ontem à tarde e a convocação de uma entrevista coletiva com representantes dos clubes, Brigada Militar e prefeitura para esclarecimentos à população.
As autoridades garantem que os
problemas foram fatos isolados. O
major Marinho, comandante do 3º Batalhão de Áreas Turísticas, afirmou que as delegações de Grêmio e Inter terão escoltas – serão 11 policiais para cuidar de cada clube. Dois policiais se revezam em frente aos dois hotéis, por turno.
Mesmo assim, a percepção popular é sinal de alerta, ainda que modesto. Morador de Bento, Edemar Salton, 45 anos, acha que há problemas em reunir a Dupla na mesma cidade. À espera do treino do Inter, à tarde, ele falava do assunto com outros torcedores na Associação Geremia.
Almir Rigatti, 52 anos, de Garibaldi, condena a violência. Crê que outros torcedores possam ter desistido de ir à Serra em virtude dos episódios. Mas acha demasiado comparar a situação com o que se vê na Região Metropolitana durante o ano.
Certo é que polícia, clubes e prefeitura trabalham para evitar novos problemas. O gerente geral da Rede Dall’Onder, Gilberto Durante, conversa com frequência com os policiais.
– Notícia negativa
sempre dá má impressão. Mas não temo prejuízos –
afirmou.
Vice de futebol do Inter, Fernando Carvalho falou pela manhã em procurar a direção gremista para discutir como será 2011, já que a pré-temporada da Dupla faz parte do calendário oficial de eventos de Bento Gonçalves. À tarde, porém, a reunião acabou descartada por outro diretor, Roberto Siegmann, que participou da coletiva com César Pacheco, diretor do Grêmio. Pacheco também sinalizou a intenção de continuar com a pré-temporada em Bento, em 2011.
Os dois até deram os próprios exemplos como rivalidade pacífica.
– Fomos vizinhos por muitos anos – disse Pacheco.
– E nunca brigamos – completou Siegmann, de agasalho do Inter em pleno hotel do Grêmio.
Prefeito de Bento Gonçalves, Roberto Lunelli acha que os incidentes não devem acarretar prejuízos para a imagem da cidade, nem fuga de torcedores. Prefere contemporizar:
– Não foi nada grave. Mas somos contra este tipo de atitude. A
pré-temporada é tempo de festa.
Por que Bento?
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Integrada ao calendário da cidade, a pré-temporada na Serra é uma troca de favores. Enquanto Grêmio e Inter não arcam com custos para usufruir de hospedagem e campos de treino, a região faz uso turístico dos times.
- Com os jogadores na cidade, a cidade ocupa 30% da rede hoteleira em baixa temporada. São cerca de 2,2 mil leitos ocupados, um número bom se considerada a concorrência com o litoral.
- Em 2009, Bento recebeu os dois clubes simultaneamente pela primeira vez durante toda a pré-temporada. O clima saudável da rivalidade chegou a ser tema de reportagem à época.
Ônibus do Inter circula por Bento escoltado: uma das providências após tentativa de apedrejamento
Foto:
Valdir Friolin