| 20/11/2009 04h36min
O verão começa só em 21 de dezembro, mas o Brasileirão ferve nas tardes e noites da primavera. Como quarta-feira, no Olímpico, quando os palmeirenses Obina e Maurício perderam o emprego após troca de agressões no gramado. Brigaram porque sucumbiram à pressão, assim como já aconteceu com outros jogadores em diferentes países e campeonatos. Mas o princípio, esse é o mesmo.
Obina e Maurício explodiram instantes após o primeiro gol do Grêmio, que tirava o Palmeiras da disputa pelo título. Ambos falharam: o atacante Obina não cortou o cruzamento, enquanto o zagueiro Maurício deixou Maxi López à vontade na área.
Em entrevista à Rádio Globo, de São Paulo, ontem, Maurício pediu desculpas pelo erro atribuído a um momento de nervosismo.
– Já conversamos, nos desculpamos. Somos amigos fora de campo e está tudo em ordem – garantiu.
Segundo o volante Lucas, do Liverpool e da Seleção, trata-se de uma situação triste, mas não inédita. Ele viu o
jogo pela TV e lembrou de um incidente no final da
última temporada inglesa, quando seus companheiros Carragher e Arbeloa se engalfinharam durante West Brom x Liverpool.
– Foi chato. Mas o juiz tentou contornar e não os expulsou – contou.
Os dois discutiram, explicou Lucas, quando o Liverpool já não tinha chances de ser campeão, e essa frustração inflou os ânimos. É um raciocínio igual ao do zagueiro Bolívar, do Inter.
– As pressões do ano se acumulam. Mesmo o convívio gera desgaste. É normal. Só que um jogador precisa saber conviver com isso. O estresse pode dar briga? Pode, é claro. Mas daí entra no vestiário e resolve tudo ali. Esta é a regra – sintetizou.
No próprio Inter houve confusão recente entre Kleber e D’Alessandro, em treino. No caso inglês, menos mal que Carragher e Arbeloa fizeram as pazes. Passado algum tempo, viraram até alvo de brincadeiras dos colegas, revelou Lucas. Porque acertaram tudo na conversa, no vestiário.
Bem ao contrário de
quarta-feira. Obina e Maurício trocaram pontapés já na descida do
túnel, ainda no calor do quebra-quebra do gramado. Expulsos, foram escoltados ao hotel por um segurança. Banidos do Palmeiras, viajaram separados do grupo, ontem.
Maurício, 21 anos, sentiu muito. Sorteado no antidoping, atravessou o gramado do Olímpico chorando. Voltaria às lágrimas no hotel. Sabia do tamanho da bobagem.
A divergência, se existe, fica no rigor da punição. Presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil achou difícil opinar sobre os afastamentos.
– É o estado nervoso de quem tem sangue na veia. Queriam que o Palmeiras estivesse ganhando. Se tivessem sangue de barata, desceriam cantarolando – ponderou.
– A gente não pode condenar os caras. Ninguém sabe a pressão que estão passando – defendeu Lucas.
Na verdade, só eles próprios. Explicações aparecem apenas quando os envolvidos comentam os episódios. No sábado passado, os são-paulinos André Dias e Hugo se empurraram durante a partida contra o Vitória, que
valia a liderança.
– O Hugo é meu amigo. É coisa de
jogo, mesmo. A gente já se abraçou – minimizou André, no gramado.
As frases vão ao encontro daquilo dito pelo goleiro do Palmeiras, Marcos, ainda no Olímpico. Evidenciam os problemas de relacionamento e esclarecem o momento do time:
– Você não vê ninguém do São Paulo falando em Europa e transferência. Talvez essa seja a diferença. Lá, tem comprometimento.
Maurício (E) e Obina no gramado do Olímpico: dupla do Palmeiras foi expulsa por troca de agressões
Foto:
Ricardo Rimoli, Lancepress