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 | 16/10/2009 06h39min

A comédia da lateral-direita do Inter

Diogo Olivier, colunista online  |  diogo.olivier@zerohora.com.br






É um espanto o que está acontecendo no Beira-Rio sem que ninguém dê a dimensão correta para um acontecimento tão grave. É quase uma denúncia de propaganda enganosa. Aborda-se o problema todos os dias, os envolvidos declaram algumas barbaridades, a cada dia da semana mais um naco de tintas surrealistas avança sobre a tela que será o jogo contra o Fluminense e fica tudo como antes, sem uma voz lúcida a erguer o tom da voz para dizer o seguinte:

O Inter caminha para um jogo crucial na temporada, onde será lançada a última chance de seguir sonhando com o título brasileiro 30 anos depois de 1979, sem um mísero lateral-direito em condições de se fardar e tirar a foto posada no campo.

Então, é isso. O grande grupo do Inter, anunciado como o maior em qualidade e quantidade, não tem um número 2 capaz de ao menos vagar pelo ataque com alguma naturalidade. Como o esquema do agrado do técnico Mário Sérgio é justamente o 3-5-2, com alas, o problema vira um Código da Vinci em complexidade.

Danilo Silva, como se sabe, sofreu uma distensão na coxa direita. Está fora por duas semanas. Sua ausência é um bom exemplo da teoria do bode. Zagueiro improvisado na lateral, ele tira os torcedores do sério quando arranca em velocidade e, na hora de parar e pensar em fazer algo com a bola, nada acontece. Cheguei a ouvir esta semana no pátio do Beira-Rio lamúrias do tipo: "E agora, sem o Danilo, como vai ser???"

É o bode. Ruim com Danilo, pior sem ele.

Glaydson disse que o seu último contato com a posição foi há 8 anos, no Vasco. Neste momento, Danilo vira Carlos Alberto Torres. Danny Morais (na foto, de amarelo) garante que jogou de volante e zagueiro nas categorias de base. Ala? Jamais. A esta altura Danilo é Carlos Alberto marcando aquele golaço na final da Copa de 1970. Bolívar, como se sabe, foi expulso. E mesmo que pudesse ser escalado, há anos é apenas zagueiro e nada além disso. E Daniel, dos juniores, nunca veste o jaleco dos titulares nem em treino técnico.

Culpa de quem? De Mário Sérgio é que não é.

Ele chegou ontem e não tem nada a ver com isso. Da torcida? Muito menos. Os colorados estão com calos nos dedos de tanto mandar e-mail pedindo para contratar lateral-direito. Também não se pode cobrar da imprensa, que cansou de alertar para esta deficiência alarmante, capaz de deixar o time manco feito o corcunda de notredame.

O Brasil tem 5.564 municípios espalhados por 26 estados. Em todos eles há pelo menos um clube de futebol, mas a direção do Inter não encontrou — ou, pior, nem procurou — um lateral-direito de carteira assinada.

Assim, enfrentará o Maracanã lotado, precisando vencer, sem um jogador com vocação para ir ao fundo e cruzar na direção de Alecsandro, um cabeceador nato.

A direção do Inter é campeã do mundo. A mais vencedora em 100 anos. Ninguém discute isso. Mas as barbaridades cometidas este ano em nome da lateral-direita no Beira-Rio são tão incríveis que provocaram anestesia: ninguém mais sente nada em relação ao assunto. Hoje tem coletivo no Beira-Rio. Quem será o escolhido? Ninguém sabe. E faz diferença saber?



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