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 | 07/10/2009 03h35min

“Vou tratar D’Ale como homem”, diz Mário Sérgio

Técnico anunciou mudanças no time que enfrenta o Náutico

Leandro Behs e Leonardo Oliveira  |  leandro.behs@zerohora.com.br leonardo.oliveira@zerohora.com.br

Mário Sérgio nem vestiu o abrigo do Inter depois da apresentação aos jogadores. Enquanto o grupo foi aos treinos, o técnico permaneceu no vestiário. Só na volta houve uma primeira conversa. Foi de 20 minutos. Nela, Mário Sérgio repetiu a frase dita para a imprensa:

– Quem quiser ajudar o time está comigo, quem não quiser, está fora.

E anunciou mudanças no time que precisa vencer o Náutico, às 21h50min de hoje, no Beira-Rio: Andrezinho será ala, D’Alessandro ganha voto de confiança, e Elton, volante e destaque do Inter B, estreia como titular – na vaga de Sandro.

Zero Hora – A nove pontos do Palmeiras, ainda dá para chegar ao título?

Mário Sérgio –
Não digo isso como “achômetro”. Temos exemplos: o São Paulo fez isso e está repetindo. Vejo o Inter com o mesmo potencial. Isso se os jogadores quiserem – que fique bem claro, a vontade é deles, o técnico muitas vezes até atrapalha quando impõe isso e aquilo.

ZH – O que explica o Inter passar seis jogos sem vencer?

Mário Sérgio –
Não é possível que o campeão do primeiro turno faça um segundo turno em que está na zona do rebaixamento. Não posso de forma alguma repetir o time que conseguiu só sete pontos no returno. Tenho todos os motivos para mudar o time. Não posso mudar radicalmente porque seria perigoso. Mas haverá mudanças. Humildade, peço à torcida que não abandone o time. Voltaremos a jogar, e quero o título.

ZH – D’Alessandro hoje é referência técnica, o maior salário, mas não assume o papel no time. Ele terá atenção especial?

Mário Sérgio –
Quem tem que jogar e fazer é ele. Se houver mudança no comportamento, tem que ser o dele, não o meu. Vou ter o mesmo comportamento com ele e com os outros jogadores. Falo porque, quando jogador, fui parecido com D’Alessandro, tinha posições firmes, personalidade. Não tem por que nem apadrinhar, nem sair dando porrada. Vou tratá-lo como homem. Se ele é craque? Ele tem de provar.

ZH – Qual o problema do time do Inter?

Mário Sérgio –
Não sei ainda. Por isso, apelo à torcida que não me viu jogar no passado: tenham a humildade de procurar os pais, os avós e os tios para saber da importância que tive aqui como jogador. Só por esse fato, o respeito tem que acontecer automaticamente.

ZH – Você vem apenas por dois meses. O que pretende fazer depois? Segue como técnico?

Mário Sérgio –
Não planejo carreira, vivo cada momento. Estou em um grande clube, com um grande grupo nas mãos.

ZH – Não há o risco de desmobilização do grupo tendo um técnico-tampão?

Mário Sérgio –
O jogador sabe que o fim do ano é decisivo para ele. Não tem de jogar por mim, mas por ele. O futuro que está em jogo não é o meu, é o deles. Se não conseguir êxito, é lógico que me prejudicarei. Mas eles (jogadores) se prejudicarão muito mais. Eles vão abrir mão por que o técnico vai embora em dois meses? Seria uma tremenda burrice deles.

ZH – Quantos dos 27 jogos do Inter no Brasileirão você assistiu?

Mário Sérgio –
Uns cinco, no máximo. Mas o mais importante é ter informações do grupo. Tenho ligações fortes aqui. É como se estivesse vendo os treinos diários. Sei o potencial de cada um através de informações de pessoas que merecem minha total confiança.

ZH – Em quanto tempo você terá total conhecimento do vestiário?

Mário Sérgio –
Será rápido, tenho 45 anos no futebol, inclusive trabalhando do lado da imprensa. Isso te prepara para exercer outras funções dentro do futebol. O jogador não precisa falar. No olhar, na postura você sabe se ele quer ou não. Aquele que quiser está comigo até o fim do ano. Aquele que não quiser, não estará.

ZH – Como jogará o seu time?

Mário Sérgio –
Fatalmente terá como base a tradição do futebol gaúcho. Não vou abrir mão disso. Vamos priorizar a marcação forte, as bolas paradas serão treinadas à exaustão, teremos um time forte e grande.

Zero Hora – O que não pode faltar ao time de Mário Sérgio?

Mário Sérgio –
Luta, muita luta, marcação muito forte. A premissa é impedir o adversário de jogar a qualquer preço e, quando tiver a bola, manter a posse, valorizar. E ser extremamente competitivo. Aqui no Sul ninguém gosta de gracinha, presepada, jogada de efeito.

ZH – A lateral-direita é um dos problemas do time. Como você vai resolver?

Mário Sérgio –
Teremos dois alas, assim que tiver condições de implantar o esquema do qual gosto. O Inter já jogou assim e teve muito sucesso. É questão de preferência, não estou corrigindo nada de ninguém nem dizendo que jogava errado. Gosto de três zagueiros, times mais altos, de alas que trabalhem não só por fora, mas por dentro. E o sucesso vai depender do fato de os jogadores quererem. Se quiserem, acontecerá ao natural.

ZH – O que você pretende fazer para recuperar o Taison?

Mário Sérgio –
Quem vai recuperá-lo é ele mesmo. Vou dar todas as condições para jogar o que sabe, criar o espaço, colocar na posição em que se sente bem, conversar com ele. Mas não serei paternal, vou usar inteligência. Em espaço curto de tempo, precisamos facilitar a vida do jogador o máximo possível. Se colocar o Taison, ou qualquer outro, em posição em que não se sinta bem, não produzirá o esperado. Aquilo que é combinado não é caro.

ZH – Você é considerado um técnico linha-dura. Como será no vestiário?

Mário Sérgio –
É difícil separar o Mário Sérgio jogador do Mário Sérgio treinador. O ideal é que eu me pense como jogador. É a referência para entender o perfil deles. Nunca precisei de ninguém gritando no meu ouvido para me motivar ou jogar melhor. Tenho aqui jogador de Seleção, outros que foram campeões do mundo. Se tiver que falar algo para que voltem a ter confiança, é absurdo tremendo. São todos homens, casados, com filhos, sabem da responsabilidade.

ZH – Você chega pouco favorecido com as enquetes, que reprovam sua contratação.

Mário Sérgio –
Não é a primeira vez que isso acontece. Qualquer um que viesse, a rejeição seria automática. Talvez se o Wanderley Luxemburgo viesse, alguns o rejeitariam também. A torcida quer resultado.

ZH – Tite sofreu dificuldades no Inter por ter sido técnico no Olímpico. A sua conquista do Mundial pelo Grêmio não pode provocar problemas?

Mário Sérgio –
Quando fui campeão do mundo pelo Grêmio em 1983, no início do ano seguinte fui contratado pelo Inter. Houve um Gre-Nal de entregas de faixas no Olímpico. Com a camiseta do Inter, não coloquei a faixa. Segurei-a na mão e respeitei o clube que havia me contratado. Reconheci o título, importante na minha carreira, mas naquele momento estava com a camiseta de outro clube que havia me contratado pela segunda vez.

ZH – Daquele time tricampeão brasileiro em 1979, o que é possível trazer para hoje?

Mário Sérgio –
Não sou saudosista. Fomos campeões invictos, o que talvez nunca mais aconteça. É um exemplo a ser seguido. Hoje, eles (jogadores) precisam ganhar todos os 11 jogos para serem campeões. Em 1979, ficamos 27 jogos sem perder e levamos a taça.

ZH – Assumir em emergência retira um pouco da responsabilidade?

Mário Sérgio –
Não, ela continua grande. Cheguei sabendo que são dois meses, para mim e para o Inter. Não vim fazer boa campanha e pleitear renovação para 2010. Deixei isso bem claro para o Fernando (Carvalho).

ZH – Como você devolverá a confiança aos jogadores?

Mário Sérgio –
Quem precisa adquirir a confiança são eles. Essa é responsabilidade deles. Infelizmente não posso jogar. O que posso fazer é mostrar que sou parceiro. Serão tratados como profissionais na acepção da palavra. No início do ano, em São Paulo, 80% apontavam o Inter como favorito. Isso não pode ter se perdido do dia para a noite.

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