| 26/09/2009 13h10min
Um é amado. E, quando se ama de verdade, perdoar é um alívio. O outro é odiado. E quando não se ama, até a posição do açucareiro na mesa pode deflagrar uma briga de vale-tudo.
Por isso Paulo Autuori seguirá em paz ainda que perca amanhã no Serra Dourada para o Goiás e fique mais longe do G-4.
Por isso Tite seguirá o seu calvário mesmo se vencer o Flamengo no Beira-Rio e se aproximar da briga pelo título brasileiro.
O técnico do Inter
venceu o Gauchão, a Copa Sul-Americana e se equilibra no G-4 do Campeonato Brasileiro desde a primeira rodada. Perdeu
as finais da Copa do Brasil e da Recopa. Mesmo assim, embora não se possa classificar tais resultados de ruins, os colorados querem acomodá-lo na guilhotina e decepar a sua cabeça a cada má fase.
Contra Tite, um fato inquestionável: o Inter recente não apresenta evolução. Oscila demais: dá show, depois faz fiasco. E a parte do fiasco anda cada vez frequente. Assim, o torcedor, que nunca gostou dele mesmo, ganha um motivo real para desgostar ainda mais.
O técnico do Grêmio está no Olímpico há menos tempo. Foi trazido para dar o ''algo a mais'' nas fases finais da Libertadores. O Cruzeiro lhe atravessou o caminho e o impediu de vencer no mais importante torneio das Américas. No Brasileirão, como não ganhava fora de casa, chegou a ouvir algumas críticas.
Algo assim muito tênue, nada comparado ao que Tite ouvirá quando o seu nome for anunciado pelo sistema de som do Beira-Rio neste domingo. Assim que ganhou do Náutico nos
Aflitos veio o perdão
antecipado, transformando em euforia ao manter, diante do Fluminense, o desempenho avassalador em casa. A favor de Autuori, um fato inquestionável: o Grêmio recente emite sinais de crescimento lento, porém contínuo. O que dá esperança e projeta um 2010 promissor.
Só que não é o desempenho do time que motiva tanto o ódio a Tite quanto o amor a Autuori. Os colorados nunca gostaram de Tite. Os gremistas sempre amaram Autuori. Os colorados nunca deixaram de achar que Tite é gremista, por conta do trabalho que fez no Grêmio. Os gremistas lembram que Autuori fracassou justamente quando treinou o Inter, embora tenha feito sucesso em vários times. Até no Botafogo Autuori triunfou. Menos no Inter.
Os resultados apenas vão se encaixando neste sentimento original, mesmo que muitas vezes o campo ofereça motivos reais para justificar frustração ou confiança. É aí que reside, muito mais do que nas questões táticas, nas explicações a cada
resultado ruim ou nas opções por
este ou aquele jogador, o motivo do amor e do ódio aos técnicos no Beira-Rio e no Olímpico.
Autuori ainda é sucedâneo de Celso Roth, o que já justifica mais da metade da paixão dos gremistas. Qualquer um que viesse para o lugar de Celso Roth seria tratado com pétalas. Se este alguém é um profissional civilizado e vencedor na mesma medida, como é Autuori, vira caso de namoro para caminhar de mãos dadas no Brique.
Para resumir o sentimento original que fará os colorados vaiarem Tite no Beira-Rio e os gremistas aplaudirem Autuori no Serra Dourada em frente à TV, seja qual for o resultado: os colorados acreditam que Tite, no fundo, é gremista. E os gremistas acham que Autuori, por opção ou destino, sempre teve uma queda pelo Grêmio.
Vá tirar isso da cabeça do torcedor na Província de São Pedro, se é justamente esta irracionalidade deliciosa que fez o futebol gaúcho ser respeitado no mundo
inteiro.
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