| 06/09/2009 06h10min
Eduardo Di Baia, AP
Que a Seleção Brasileira, antes desinteressada e omissa, como se viu na Copa de 2006, agora é guerreira e faz disso a sua grande virtude, está mais do que evidente. Até o mais renitente crítico de Dunga admitirá: o torcedor hoje dorme tranquilo, sabendo que cada jogador, superestrela ou não, se entrega em qualquer jogo como há muito não se via. Assim, basta um pouquinho só de talento — e isto o brasileiro tem de sobra — para as vitórias surgirem uma atrás da outra. Em resumo, é um time com a cara de Dunga. Disciplinado, de marcação férrea, sem brilho e,
especialmente, vencedor.
A explicação para o 3 a 1 de ontem sobre a Argentina, em Rosário, passa pelo
parágrafo acima. Ganhou quem marcou melhor.
A Seleção, quando atacada, defendia com duas linhas de quatro bem definidas. A primeira: Maicon, Lúcio, Luisão e André. A segunda: Elano, Felipe Melo, Kaká e Gilberto Silva. Até o apagado Robinho e o eficiente Luís Fabiano voltavam para compor o setor. Disciplina pura.
Dois gols representaram essa disciplina: o cabeceio de Luisão, que é jogada repetida à exaustão nos treinos, e o rebote oportunista de Luís Fabiano. O pouquinho de talento veio no lançamento por dentro de Kaká e no toque por cobertura de Luís Fabiano. O gol de Datolo foi obra do acaso. Ele arriscou um chute de longe e deu sorte. Nada além disso.
Tudo isso é verdade, assim como também é verdade o seguinte: o trabalho de Maradona como técnico é um espetacular fiasco.
Recheada de ótimos jogadores — Messi, Aguero, Tévez, Mascherano, Verón — a Argentina de Maradona parece um time
varzeano. Marca errado, não tem jogada ensaiada, a cada escanteio
defensivo vê-se um, dois atacantes adversários livres na área, o meio-campo não se comunica com o ataque, enfim, trata-se de um amontoado de jogadores sem comando.
Desde que assumiu a Argentina, alguém lembra de Maradona dando alguma entrevista tratando de questões táticas, estilo de jogo, como enfrentar este ou aquele adversário, qual o seu esquema preferido? Nada. No lugar disso, provocações, poemas de amor ao país e frases de efeito já um tanto batidas, como "é preciso suar sangue". Ao pedir para enfrentar o Brasil em um estádio pequeno, passou o seguinte recado aos seus jogadores: "Eles são melhores do que nós. Precisamos usar de outros artifícios, além do futebol, para vencê-los".
Tudo isso caía bem no figurino do Maradona craque de bola, mas no de treinador beira o ridículo.
O melhor que a Argentina tem a fazer agora é entregar tudo na mão de Carlos Billardo de uma vez. Pelo menos haverá um técnico na casamata. A
Seleção? Bem, a Seleção tem a cara vencedora de
Dunga. Se continuar assim na Copa da África, alguém há de pedir mais?