| 01/06/2009 08h13min
Faz parte da história e da tradição do Grupo RBS lançar bandeiras institucionais com temas de interesse social para seus públicos, tanto em Santa Catarina quanto no Rio Grande do Sul. Nossas campanhas, sempre com a adesão significativa dos catarinenses e gaúchos, já contribuíram para a proteção da infância, para a construção de estradas, para a valorização da educação e para favorecer a disciplina do trânsito, entre outras iniciativas. Pois hoje estamos lançando uma bandeira de guerra contra um inimigo terrível, que escraviza pessoas, destrói famílias, degrada a juventude, estimula o crime e provoca mortes. Estamos falando do crack – uma droga devastadora que vicia na experimentação e condena seus usuários à degradação física, mental e social.
A cada dia aumenta o número de dependentes deste verdadeiro inseticida humano, que começou a ser consumido entre os jovens das classes mais carentes e hoje atinge pessoas de todas as idades e de todos os estamentos sociais. Só no Rio Grande
do Sul já existem
mais de 50 mil dependentes. Em Santa Catarina ainda não há um levantamento preciso, mas há robustas razões para supor que o número de escravos desta droga imunda seja semelhante ao do Estado vizinho. No ano passado, segundo a Secretaria Estadual da Segurança Pública e Defesa do Cidadão, o volume de droga que foi apreendido durante diligências policiais (203.943 pedras) aumentou 81% em relação a 2007. Este ano, de janeiro até o momento, as apreensões já somaram quase 32 mil pedras no Estado.
O crack afeta, inclusive, a vida de quem nunca sequer viu a droga, pois está na raiz das tragédias familiares, na origem de roubos, assaltos e homicídios, na motivação do absenteísmo escolar e na interrupção de carreiras profissionais. É considerado pelas autoridades como um dos maiores problemas de saúde pública e como a principal causa da violência nos grandes centros urbanos. Tem, portanto, potencial para se transformar na pior epidemia da história do país.
Por tudo isso, pela
dimensão do problema, é que
a RBS resolveu encarar o desafio de convidar a sociedade catarinense e gaúcha para uma gigantesca campanha de prevenção, destinada prioritariamente a alertar quem não caiu ainda na armadilha e a evitar novas vítimas da ilusão fatal. Com a ajuda de autoridades e especialistas, elaboramos um projeto institucional, publicitário e editorial, focado num objetivo principal: nenhum novo consumidor de crack em nossos Estados. A campanha também abordará a repressão aos traficantes e o tratamento para a recuperação de viciados, com o propósito reduzir a incidência de episódios deploráveis que já se tornaram rotineiros na vida dos brasileiros, como crianças e adolescentes acorrentados, filhos agredindo os pais, dilapidando os bens da família e até mesmo sendo mortos por seus progenitores, na tentativa desesperada de se livrar do suplício imposto pela dependência.
A campanha terá cenas chocantes como é efetivamente a realidade dos drogados e das pessoas que com eles convivem. Quem vive em cidades
grandes não
desconhece a existência de verdadeiros exércitos de zumbis que perambulam pelas calçadas escuras movidos unicamente pela pedra maldita. Nem parecem mais seres humanos: são farrapos de gente, pessoas que renunciaram à saúde e à dignidade para se deixar embalar pelo feitiço ilusório da fumaça tóxica que atinge o cérebro em segundos, acelera o ritmo cardíaco, dilata as pupilas, eleva a temperatura e projeta o usuário para um estado de agressividade, de paranoia e torpor. O crack também causa problemas cardíacos, parada respiratória, derrames, infartos, náuseas, dores abdominais e perda de apetite. A saída deste labirinto de horrores é muito difícil de ser encontrada. O índice de recuperação das clínicas especializadas é baixíssimo, e o de mortes, pelos estragos no organismo ou pela violência comum entre usuários e traficantes, é muito elevado.
A sociedade, infelizmente, não está preparada para lidar com esta maldição moderna. As famílias tendem a ocultar o problema quando um de seus membros
mergulha no
poço sem fundo e só procuram ajuda quando as relações domésticas estão irremediavelmente deterioradas. Pior: o poder público e o sistema de saúde não dispõem de alternativas para o atendimento desta população de dependentes químicos. A novela familiar é bem conhecida, porque se repete centenas de vezes em muitos lares. Jovens que experimentam a droga tornam-se dependentes quase que instantaneamente, sentem necessidade de usá-la 20 ou até 30 vezes por dia, e são capazes de qualquer coisa para obtê-la. O caminho é quase sempre o mesmo. Os viciados começam roubando da própria família, e depois partem para delitos cada vez mais graves e violentos.
A rede de saúde pública, não só em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul como também no país inteiro, está despreparada para atender o aumento avassalador dos dependentes de crack. Por isso, a situação exige urgência na formulação e na prática de políticas públicas eficientes para enfrentar o tráfico, liquidar no nascedouro a produção e distribuição
desta
droga, e proteger a população do seu avanço, que se dá em velocidade aterrorizante entre os jovens de todas as classes socioeconômicas.
As causas da disseminação desta e de outras drogas são bem conhecidas: ambiente social favorável, decorrente de famílias desestruturadas e especialmente da ausência da figura paterna; crise social de valores e referências morais; baixo nível de informação e educação; baixo preço da droga; fragilidade dos sistemas repressivos e as já citadas carências do sistema público de saúde.
As consequências são terríveis: dor, prostituição, roubos, assassinatos, famílias destruídas, seres humanos degradados, transformados em personagens de filme de terror.
A solução depende de todos nós, da nossa capacidade de enfrentar o problema, do nosso poder de organização, da nossa vontade de lutar pelas pessoas que amamos, da nossa capacidade de dizer “não” a essa droga maldita com toda a força da nossa alma.
Não
facilitar.
Não tolerar.
Não experimentar.
Não vacilar.
Não aceitar.
Não esmorecer.
Não desistir.
Não temer.
Não se omitir.
Crack, nem pensar.