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 | 01/06/2009 05h12min

Colunista de 11 Copas, professor Ruy fala sobre a escolha da Capital

Ruy Carlos Ostermann  |  ruy.ostermann@zerohora.com.br

Com todo o respeito, a mais prendada admiração e reverencial cerimônia, de cabeça baixa e pés juntados com recato e sapato lustrado, sem nenhum gesto que pudesse ser mal interpretado, sem adereços ou boina de guerrilheiro. Assim, na mais simples e honesta das gratidões, mas com um sopro de orgulho, quase uma brisa desfazendo o bigode, talvez um vento do Sul, úmido e frio, sei lá, com tudo isso e mais um pouco, é chegada a hora de declarar que Porto Alegre tem um futuro jamais sonhado. Vou andar de bonde, os ônibus ficarão coloridos, verde e amarelo, branco, azul, vermelho, cor-de-rosa, todas as cores comandadas pelas do Brasil e do Rio Grande. As mulheres ficarão ainda mais bonitas. Os edifícios vão mudar de lado e ficar mais altos, o cais do porto, então, terá navios, embarcações de todo tipo, e multidões nos seus ancoradouros, as praças vão aumentar, avenidas, mais avenidas, as árvores podem desfolhar de alegria.

Porque ontem, em Nassau, nas Bahamas, a Fifa declarou que Porto Alegre não só existe, mas também está no mapa, é a primeira grande capital de língua portuguesa no Cone Sul, sede dos eventos, das festas, das visitas e dos negócios, moradia do Grêmio e do Internacional, dois campeões do mundo e do Brasil. Porto Alegre será sede de jogos da Copa do Mundo de 2014, a Copa Brasileira.

Era menino e distraído quando a Copa de 50 passou por Porto Alegre e deixou uma tristeza insuperável para aquelas gerações de jogadores maravilhosos – Zizinho, Danilo Alvim, Ademir Menezes, Maneca – e torcedores de chapéu e gravata no Maracanã e na sala de suas casas, com um rádio valvulado em cima da mesa principal, e todos ao redor imaginando pela transmissão da Rádio Nacional, a mesma que Rubem Braga declarou ser a língua que se falava no país, como deveria ser a espantosa realidade do futebol. Já faz muito tempo que vejo Copa do Mundo, a última foi na Alemanha, faz pouco, a primeira foi em 66, na Inglaterra.

Pensava que já fosse Copa demais, o mesmo ritual de passaporte, passagem, travellers, hotéis, trem, avião, barco, velhos e queridos amigos, madrugadas de trabalho, manhãs de sono e aquele frio na barriga na véspera de qualquer jogo, a última manifestação do menino que ouvia rádio, não entendia bem o que estava acontecendo, mas tinha certeza de que seria grande e bonito.

Porto Alegre é, para muitos visitantes, a europeia das cidades brasileiras. Amabilidade, às vezes somos provincianos e canhestros, não distinguimos uma grandeza de uma baixeza, calamos quando deveríamos declarar nosso contido orgulho de porto-alegrense, não somos menores, pelo contrário, nos respeitamos grandes e decididos.

Essa Copa de 14 vai atrair muita gente do Prata, do Norte, do Leste, da Europa e, ao contrário do que quase sempre acontece em copas europeias, tudo tão perto, daqui a Gramado muitas vezes, desta vez quem chegar, fica. Porto Alegre vai ser a sede de um acontecimento humano, o entorno vão ser pequenas viagens, aventuras comedidas, descanso de novo jogo programado. Pensa que se possa escolher que país deveriam vir. O Comitê Organizador fará um sorteio em Zurique. Talvez nos caiba uma Alemanha, outra Itália, talvez a Argentina. Um pouco de sorte ajuda o coração.

Mas a grande conquista está feita: Porto Alegre é sede e vai se organizar para ser admirada pelo mundo todo, não só por quem chega pelo Salgado Filho ou vem por dentro, pelo chão admirado do Rio Grande. Será preciso construir a Arena do Grêmio, ampliar em parte o Beira-Rio (as maquetes estão lindas, o entusiasmo dos dirigentes ainda é maior, e a imprensa está convencida de que vamos em frente), será preciso mudar a cidade, as avenidas, instituir o nosso trem de superfície, revitalizar o sonho do Koester, que é um trem aéreo movido pelo vento. Tudo terá de ser ajeitado e transformado e todos nós estamos de pé, alguns conseguem levitar e deslizam pelo forro dos nossos sonhos batendo palmas, dando gritos de incentivo e exigindo que todos nós estejamos juntos. Quando, outra vez, em algum século vindouro, estaremos tão perto da felicidade?

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