| 26/05/2009 13h30min
Mauro Vieira
Fui ao treino do Inter ontem.
Quando deparei com repórteres, fotógrafos e cinegrafistas na entrada do vestiário principal, todos de cara amarrada, logo vi: treino fechado. Jornalistas odeiam treinos fechados, porque ficam sem condições de informar com qualidade. Quem perde, em última instância, é o torcedor. Que fica privado de saber como foi o dia de trabalho do clube cuja única razão de existir é ele mesmo, o torcedor.
Restou esperar os jogadores saíram, a noite já invadindo o céu. Seria uma segunda-feira banal e de obviedades não fosse uma presença incomum.
De uma para outra, surge D'Alessandro (foto) de alpargatas, calça capri, camiseta institucional do Inter e
piercing no lábio inferior. Ele raramente dá entrevistas após treinos. Ontem foi um desses dias raros.
Encerradas as gravações, desligados holofotes e gravadores, pedi licença para conversar com o argentino. El Diéz do Inter aceitou de bom grado. Me pareceu sincero. Não fez aquela cara de fastio, própria de quem está ali por obrigação. Eu queria conversar. Algo menos formal, mais bate-papo. E ele também, percebi logo.
Desta conversa na porta do vestiário, emergiu um ponto de vista interessante e inédito sobre o time do técnico Tite. O Brasil canta do Oiapoque ao Chuí que o grande diferencial colorado, aquele que decide e é capaz de garantir celebrações no Jornal Nacional, esta virtude de tantos louvores é o ataque. Nilmar e Taison, a dupla veloz e letal. Ele próprio, D'Alessandro, faz parte deste mantra como provedor dos dois. Só que o argentino discorda desta avaliação.
Para ele o segredo vermelho é a defesa:
a linha de quatro (Bolívar, Índio, Álvaro e Kleber) e
mais Sandro à frente. Uma defesa que ainda não sofreu gols no Brasileirão.
— Só há uma forma de perder: levando gols. Se você não sofrer gols, jamais perderá. O mais importante do Inter, hoje, é a defesa. Na medida em que a defesa funciona, os gols dos atacantes aparecem mais, porque decidem os jogos. Pode parecer filosofia, mas é a realidade. Quem não leva gols, não perde. E tem mais chances de ganhar.
Palavra de D'Alessandro. Na véspera de um jogo pela Copa do Brasil, contra o Coritiba, no Beira-Rio, no qual é fundamental não levar gol em casa.
Leia os textos anteriores da coluna No Ataque.