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 | 31/07/2008 23h15min

Armadora da seleção de handebol não esconde decepção após corte

Blumenauense Fabiana Gripa não encontra explicação para dispensa

Paola Loewe  |  paola.loewe@santa.com.br

O desabafo começou com um choro compulsivo, ainda na França. Terminou com palavras emocionadas, escritas em um simples caderno, já em solo brasileiro. Cansada de esperar pela chegada a Blumenau para colocar para fora a frustração por ter sido cortada da Seleção Brasileira de Handebol às vésperas das Olimpíadas de Pequim, Fabiana Kuestner Gripa tirou o lápis da bolsa e colocou todo o sentimento ruim no papel. Ali ele ficou.

— Me comparo a uma bolinha de tênis de mesa, sendo jogada de um lado para outro. De um lado o sentimento é de tristeza e do outro de esperança. Por enquanto, não tenho controle desse jogo e, ainda pior: estou mais do lado da tristeza — dizia um dos trechos.

O texto, quase secreto (foi lido apenas pela cunhada da atleta), foi dividido em entrevista exclusiva ao Santa, quarta-feira, um dia após a chegada ao Brasil. Sabidamente, ela censurou alguns parágrafos. Outros, permitiu que fossem compartilhados.

O conteúdo tem forte apelo emocional. Além de extremamente pessoal, fala de mágoa, medo e fracasso, sentimentos que tomaram conta do coração de Fabi assim que o técnico Juan Oliver deu a notícia do corte. Mas ela não deixou eles dominarem.

— Fui para o banheiro, me encostei na parede e em seguida veio a imagem da minha mãe na mente — contou, lembrando que já passou por uma grande e incomparável tristeza em 2000, ao perder a mãe, que tinha câncer.

— Não ia ser isso que ia me derrubar — completou Fabi, bem mais sorridente.

Naquele momento, ela respirou fundo, assistiu à partida entre Rússia e França e participou da premiação antes de ensaiar como daria a notícia para o marido, Robson Gripa. Ele seria o primeiro a saber, entre tantos que estavam na torcida por ela.

Ao retornar, Fabiana viu que todos continuam do lado dela. Do taxista ao pai, irmão, cabeleireiro, vizinho, garçom. Que o orgulho não vai diminuir por ela não repetir o que fez em 2004, quando defendeu o Brasil nas Olimpíadas de Atenas.

— A dor ainda incomoda, mas ameniza a cada demonstração dessas. Blumenau é meu alicerce, aqui que vou mostrar que tinha condições de estar lá — afirmou.

Ela só não quis falar em Seleção. Mas o torneio na França, às vésperas das Olimpíadas, pode sim ter sido uma despedida. Não do handebol, é claro.

— Ainda vou mostrar que somos uma potência e ganhar a Liga Nacional por Blumenau. A partir de agora, esse passa a ser meu objetivo — disse a jogadora.

"Não encontro uma resposta"

Desde que soube do corte, Fabiana Gripa busca explicações, mas não encontra. E é justamente isso que a deixa mais aliviada. A blumenauense tem certeza de que fez de tudo para estar na lista de 14 atletas.

— Me pergunto o tempo todo: o que eu não fiz? Mas não encontro uma resposta — revelou.

O técnico Juan Oliver não deu justificativas para a atleta. Porém, no site da Confederação Brasileira de Handebol, ele diz o seguinte: 

— Foi muito difícil definir o grupo, pois todas as jogadoras mereciam estar nas Olimpíadas pelo bom trabalho que fizeram durante todo esse período, mas infelizmente só tínhamos 14 vagas. Pensamos em várias situações e optamos por um grupo forte, principalmente na defesa — explicou Oliver.

Na lista, está a blumenauense Eduarda Amorim e Aline Pará, que não nasceu aqui mas defende a equipe da Furb/Blumenau.

O desabafo

"Bom dia. Agora são 8:00, seja bem-vindo a conhecer hoje sentimentos que expressarei aqui, sentada desde as 4:00hs da manhã (dia 29/07/08) no Aeroporto de Congonhas, na espera ansiosa do vôo para Navegantes, querendo o mais rápido possível chegar em casa e me jogar nos braços do meu marido p/ assim desabafar este sentimento que começo a liberar de dentro de mim agora nesta carta, pois não agüento mais.

Não vou medir palavras, estou me sentindo um fracasso, mesmo tendo toda a certeza de que fiz tudo para conseguir este objetivo. Já me perguntei muitas vezes bem baixinho o porque, aonde foi que eu errei?

Tudo começou no vestiário, após o jogo com a Noruega (dia 28/07/08). Juan, técnico da Seleção Brasileira de Handebol tinha um difícil comunicado a fazer, cortar duas meninas da Olimpíada de Pequim. Estava em uma espera agonizante, pois não havia jogado este jogo e nem treinado no dia anterior _ me lesionei no jogo contra a França, uma famosa paulistinha na coxa esq., mas nada sério.

Estava sentada bem na frente dele, ele de (um) lado do vestiário e eu de outro, ele fez um comentário breve sobre o jogo e, em seguida, o momento. As palavras que soam até agora em meus ouvidos e estão empregnadas em minha mente: "os cortes serão Fabiana Gripa e Sílvia Helena e como já falei não irei justificar".
Fiquei sem reação, paralisei, a única coisa que eu lembro foi eu ter me perguntado: aonde foi que eu errei? E chorei, chorei muito. Vieram meninas me consolar e então criei uma barreira, enxugando as lágrimas e dizendo: estou bem, estou bem! E saí do vestiário.

Deste momento até agora, 8:24h, eu me segurei firme e forte, mas não agüento mais. Está doendo. Esta sensação que repito, de fracasso, só me maltrata. E querer saber o porquê me corrói por dentro, pois penso que fiz de tudo p/ ficar e defender o meu país com o maior prazer que sempre tive".

Rafaela Martins  / 

O técnico Juan Oliver não deu justificativas para o corte de Fabi
Foto:  Rafaela Martins


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