| 01/07/2008 05h14min
A Travessa 8 é uma rua estreita, com piso de saibro e sem calçadas, encravada no coração do loteamento Navegantes 2, uma das áreas mais pobres da periferia de Pelotas. Foi ali, na casa 108, uma construção simples e acanhada, protegida por muros de tijolos caiados, que a principal estrela do Inter no Gre-Nal 370 descansou no dia seguinte ao jogo.
Ao lado da mãe e de quatro dos 10 irmãos, o meia-atacante Taison, 20 anos, aproveitou a segunda-feira para colocar a conversa em dia, matar a saudade acumulada ao longo do último mês e, claro, contar detalhes de seu primeiro jogo como titular do Inter.
Ladeado pelo procurador Alcione Dornelles, que o descobriu em um torneio amador há cinco anos, quando ainda usava camisa azul e amarela do Osório — um clone amador do Esporte Clube Pelotas — , Taison lembrou das partidas
disputadas nas ruas de areia, dos jogos no pátio da
Escola Estadual Nossa Senhora dos Navegantes e dos torneios em que jogou ao lado dos amigos Nenê, Chuchu e Sapo.
— Matava muita aula para jogar bola — confessa o garoto que parou de estudar na 6ª série e jura sempre ter sonhado em ser ídolo no Inter.
Em meio às reminiscências foi impossível deixar de lado os momentos difíceis da família. Com 11 filhos para criar, a ex-faxineira Rosângela Barcellos Freda, 48 anos, a dona Vavá, e o pai, Admir Oliveira Freda, 57 anos, enfrentaram maus bocados.
— Havia dias em que faltava comida na mesa, então era preciso recorrer à ajuda da minha mãe — conta Rosângela.
Meia foi guardador de carros em Pelotas
A necessidade fez com que todos arranjassem um ganha-pão desde cedo. Com Taison não foi diferente. O oitavo filho de dona Vavá chegou a ser guardador de carros na porta de um supermercado no centro da cidade para ajudar em casa. O futebol
ficava para os fins de semana, quando brilhava nas peladas.
— Ele sempre desequilibrou, sempre foi melhor do que os outros, muito rápido e habilidoso — confirma o amigo Anderson Rodrigues, 22 anos, o Sapo, que hoje aproveita o cargo de gerente de uma lan house para matar a saudade do amigo. Os dois mantêm contato em conversas no MSN e por e-mail.
A boa apresentação no clássico embalou os sonhos do garoto do Navegantes. Taison só pensa em como será sua estréia no Beira-Rio como profissional. Pode ser domingo, contra o Coritiba. Ele sentiu dores na coxa, mas garante ser algo do passado. Assim como a fome e os dias ruins.
— Minha expectativa é de poder sair como titular, fazer um grande jogo e, quem sabe, marcar um gol perto da minha torcida — planeja.
Confira gráfico especial sobre a história dos Gre-Nais
Taison festeja o sucesso com a família e os amigos em Pelotas após a grande atuação no último Gre-Nal
Foto:
Marcel Ávila, Especial