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 | 03/05/2008 17h01min

Contagem regressiva: superstição na hora da final

Inter e Juventude apelam para crendices e manias para obter a vitória no jogo da decisão

Diogo Olivier  |  diogo.olivier@zerohora.com.br

Crédulo ou descrente, não há quem dispense o sabor de uma boa história de superstição. Ainda mais no futebol, terreno fértil para crendices de todos os matizes. Mas algumas são especialmente deliciosas. Quer ver? Então lá vai: agora você vai saber a verdade sobre a mística da camiseta branca, quem sabe a arma secreta do Inter para desvestir a touca do Juventude neste domingo.



Final de setembro de 2006. Um grande dirigente do Inter, provavelmente o maior de todos, chega ao Beira-Rio. Dia de jogo, casa cheia, a torcida em lua-de-mel com o time campeão da América. Àquela altura do campeonato, os colorados já estavam com cabeça, coração e alma do outro lado do mundo. O dirigente em questão não lembra mais qual era o adversário daquele domingo de sol no Brasileirão. Mas de uma senhora, 70 anos, pouco mais, pouco menos, estatura mediana, gritando por ele em frente ao vestiário, desta mulher misteriosa ele jamais esquecerá.



A velhinha gritou tanto que os seguranças, a pedido do chefe, concederam a ela o direito de romper o cordão de isolamento. Parecia uma daquelas torcedoras desatinadas de paixão, e sabe como são os desatinos dos apaixonados, ainda que de senhoras de idade. Por isso o cuidado: os colorados estavam, de fato, enlouquecidos com a possibilidade de garantir lugar eterno no panteão dos campeões mundiais.

A senhora se aproximou:

— Eu vi.

— Viu o quê? — perguntou o dirigente, enquanto atendia o mar de mãos a lhe pedir autógrafos.

— Eu vi um homem alto, todo de branco, cabelos longos, erguendo um troféu em um terra distante diante de uma multidão — disse a mulher misteriosa.

Disse e se foi.

O dirigente estaqueou por um instante. Alto, de cabelos longos? Fernandão. Numa terra distante? Japão, é claro. Multidão? Levantando um troféu? O Mundial! Era isso. Mas de branco? Não seria uma visão de Jesus Cristo erguendo um cálice no sermão da Montanha ou algo do gênero? Aí veio o estalo: o uniforme branco. Procurou a "rezadeira" (é como ele a chama) por sobre o mar de mãos. Nunca mais a viu.

A história se espalhou no mais absoluto sigilo entre os cardeais do Beira-Rio. Três meses depois, no Japão, os organizadores da Fifa levaram um susto quando o Inter abriu mão de participar dos sorteios para definir quem teria o direito de usar o seu uniforme principal.

Que o inimigo vestisse traje de gala. O Inter iria todo de branco, alvo como na profecia. E assim nasceu a mística da camisa branca: Mundial, Copa Dubai e, agora, a façanha dos 5 a 1 sobre o Paraná. Ainda não se sabe qual será o uniforme da final do Gauchão.

— Ah, vamos ver na hora — sorri Clemer, um dos que adora usar elementos de superstição no futebol. — Eu alimento essa história da camisa branca. Mal não vai fazer...

Há ainda, nesta final, a esquisita superstição do minuto de silêncio. Em todo jogo no Beira-Rio há minuto de silêncio. Como há milhões de colorados mundo afora, sempre há, no mínimo, um morto para reverenciar. Idéia de Arthur Dallegrave, ex-presidente e dirigente desde os anos 70. Deu certo uma vez e, agora, o alto-falante até anuncia, repare na final deste domingo:

— O minuto de silêncio DE HOJE vai para...

O Juventude também tem suas mandingas. Dona Alvina, mãe de Mendes, goleador do campeonato, pressente os gols do filho. Já previu quatro: dois no Madureira e outros dois no Grêmio. A gargantilha abençoada na igreja do Senhor do Bom Fim usada por Mendes foi enviada por ela diretamente de Salvador, na Bahia.

— Antes de cada jogo, conversamos por telefone. Tem dado certo. Mas é Deus quem abençoa — ensina dona Alvina, de Salvador.

Curiosamente, no ano passado, o Juventude agarrou-se ao preto para tentar escapar do rebaixamento. Vestiu o terceiro uniforme e, milagre, fez o impossível. Aplicou 1 a 0 no Palmeiras candidato a Libertadores, Parque Antártica lotado: 1 a 0. Na rodada seguinte, era a vez do invencível São Paulo, já campeão brasileiro, no Jaconi. De preto feito uma graúna, o Juventude tornou se vencer. Era o milagre acontecendo. Até chegar o Atlético-MG, também a perigo. O técnico Leão descobriu a artimanha do além e, por via das dúvidas, providenciou um antídoto do gênero. Entrou em campo com o terceiro uniforme, algo raríssimo de acontecer no Mineirão: preto com uma listra branca na barriga. O Juventude, contrariado e desconfiando, obrigou-se a ir de verde. Levou 4 a 0. Ali, com um ingrediente claro de superstição, o Atlético-MG respirou aliviado. E o Juventude viu a segunda divisão tornar-se realidade. Em tese, a história da camisa preta morreu ali. Mas nunca se sabe.

— Não tenho superstição. Tenho que ficar nervoso para liberar adrenalina, mas isso não chega a ser mania — sorri Zetti, técnico que revolucionou o Juventude desde a sua chegada, em meio ao Gauchão deste ano.

Você sabia?

Após a Copa de 1974, a revista Veja fez um levantamento curioso. O número 13, mania do técnico Zagallo, envolveu a trajetória da Seleção na Alemanha. O campeonato começou no dia 13 de junho. Na vitória por 3 a 0 sobre o Zaire, o primeiro gol aconteceu aos treze minutos do primeiro tempo. Valdomiro, que fez o terceiro gol, usava a camisa 13. O jogo diante da Alemanha Oriental foi no dia 26 (duas vezes treze). A partida contra a Argentina foi a 13ª entre os dois países em campo neutro. Antes de vencer a Seleção, os holandeses haviam marcado doze gols. Conseguiriam fazer o décimo-terceiro exatamente contra Zagalo? Conseguiram mais: Neeskens, seu autor, trazia às costas o número 13.

As manias de cada um:

Marcão: pisar o gramado com o pé direito e dar três pulinhos.
Laerte: pisar o gramado com o pé esquerdo. E rezar em seguida. Detalhe: se não rezar logo em seguida não adianta. É pé esquerdo mais oração.
Zetti: precisa ficar nervoso antes do jogo. Se não ficar realmente nervoso, algo ruim acontecerá.
Jonas: ouvir funk para "ficar ligado".
Alex: meditar no mais absoluto silêncio. Mesmo que silêncio imaginário, já que o vestiário é uma barulheira só. Trata-se de um craque zen.
Mendes: falar com a mãe que prevê seus gols horas antes do jogo e usar o escapulário benzido na Igreja do Bom Fim enviado por ela.
Clemer: bater uma luva na outra.
Fernandão: ouvir o grito da torcida no vestiário.
Elder: antes de entrar precisa fazer xixi. Mesmo sem vontade.

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