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 | 19/04/2008 21h39min

Ronaldinho: querido na Itália, rejeitado na Espanha

Craque vive dilema na Espanha e pode deixar o Barcelona nos próximos meses

Rodrigo Cavalheiro, Especial

Não é verdade que todos na Espanha queiram se livrar de Ronaldinho. Os torcedores do Real Madrid se dizem tristes. Jogam no "10 de Porto Alegre" a culpa pela fase conturbada do Barcelona.

— O Ronaldinho dos primeiros anos era temível. Aquele, eu queria que fosse jogar na Rússia. Mas este, que falta a mais da metade dos treinos, pode ficar - debocha o jornalista Miguel Tapia, ex-funcionário do Real.

A gozação é um forte indício de que "El Gaucho", 28 anos, em breve aprenderá outra língua. Provavelmente, italiano. Na torcida do Barça, o sentimento é de "já vai tarde".

— O erro foi não ter vendido ele antes. A situação é tão ruim que há indiferença se ele joga ou não. Só está motivado para festas - critica o jornalista catalão Hector Iglesias.

Para muitos torcedores, dói saber que o Chelsea cogitou pagar 90 milhões de euros pela versão risonha de Ronaldinho há dois anos. Carrancudo, não vale um terço. Os mais contundentes já não ligam para o prejuízo. Confortados por um ataque com Messi, Henry e Etoo, exigem a saída do herói da conquista da Liga dos Campeões em 2006.

— O sentimento é de ódio. Estou cansado de que ele não faça nada. Se ele voltar a jogar bem no Milan, paciência - resigna-se o catalão Manuel González, 25 anos.

As opiniões mais extremas parecem refletir os jornais esportivos de Madri. Nas páginas do As e do Marca, Ronaldinho é acusado de ser "mercenário" e "antiprofissional", um "festeiro desleixado capaz de inventar lesões" para escapar dos treinos.

Alfredo Relaño, do As, escreveu: "O jogador que colocou o Santiago Bernabéu (estádio do Real Madrid) de pé só provoca discórdia. Não se sabe se está lesionado, deprimido, disperso ou perdido". No arremate, alfinetou outro gaúcho: "Parece que Berlusconi (presidente do Milan) quer Ronaldinho. Que o leve o quanto antes, é até preciso agradecer. É um benfeitor. Antes, já levou Emerson, a grande piada de Capello".

Na última quinta-feira, foi a vez de o Marca cutucar: "Ronaldinho: uma hora de siesta no ônibus. E sua equipe treinando!".

As críticas dão idéia do tamanho do furacão que empurra Ronaldinho para Milão, mas exigem um certo "pé atrás". Na capital da Espanha, a imprensa esportiva veste sem pudor o branco, a cor da maior e mais rica torcida do país, a do Real Madrid. E o Barça estréia quarta-feira nas semifinais da Liga dos Campeões contra o Manchester United. Em resumo: a esta altura do campeonato mais importante da Europa, há interesse em agravar a crise no lado azul-grená. Pior para Ronaldinho, um alvo mudo em meio a disparos - alguns oportunistas, outros justificados pelo seu rendimento recente.

A vagarosa e traumática despedida do gaúcho reavivou a discussão sobre o profissionalismo dos brasileiros, considerados "gênios encrenqueiros" na Catalunha. Muito se falou das saídas conturbadas de Romário, Rivaldo e Ronaldo do Barcelona, até que surgiu a questão: quando Ronaldinho se uniu ao grupo?

Para os torcedores, foram a fama, o dinheiro e a boa vida de Barça que levaram ao desleixo físico. Seus defensores atribuem a culpa ao clube: a excessiva massa muscular adquirida em laboratório teria comprometido sua agilidade.

Para Luis Martín, repórter do El País que acompanha o Barcelona há 22 anos, a causa da decadência é psicológica. Nasce com os êxitos no próprio clube, na falta de motivação por novos títulos. E ganha força com a derrota no Mundial de 2006 para o Inter.

— Ele tinha perdido uma Copa do Mundo e esperava se recuperar no Japão. Como gremista, aquela derrota representou muito para ele - avalia o jornalista.

Na opinião de Martín, Ronaldinho pode voltar a ser o melhor do mundo. Ele se empolga ao contar que, ao marcar um golaço em seu início no Barcelona, Ronaldinho fez com que um pequeno tremor fosse registrado por sismógrafos nas cercanias do Camp Nou. São essas histórias, tão inverossímeis como suas grandes atuações, que devem prevalecer em alguns anos, quando ninguém conseguirá separar lendas e fatos sobre Ronaldinho. Afirma Martín:

— A sensação é mais de pena. É a de um pai que percebe que o filho se meteu no vício e se pergunta onde falhou. Ronaldinho não vai ser vaiado quando enfrentar o Barça. Pelo contrário, ainda será aplaudido.

Se não jogar pelo Real, claro.

Vincent Yu / AP

Ronaldinho passa por mau momento no Barcelona e pode ser contratado pelo Milan
Foto:  Vincent Yu  /  AP


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