| 14/03/2008 07h13min
Apenas um time venceu o Inter em 2008, até agora. E o fez nas duas vezes em que os dois clubes se encontraram. Só podia ser o Juventude, cujos bons resultados que obtém contra o time da Capital lhe renderam o apelido de "touca".
Tudo começou no Gauchão de 1998, quando era muito raro uma final sem a presença dos dois times da Capital. Pois, naquele ano, o Inter decidiu o campeonato contra o Juventude e perdeu para o time caxiense, que comemorou seu primeiro estadual em pleno Beira-Rio. Nos últimos 10 anos, alguns encontros entre os dois times colaboraram para aumentar a fama da equipe da Serra como o bicho papão colorado. O Inter até foi superior em algumas vezes, mas nunca conseguiu definitivamente "rasgar a touca verde".
Confira alguns momentos desta história recente:
Gauchão, final — 31/5/1998 — Juventude 3x1 Inter
Assim nasceu a
"touca". Disposto a emendar o bicampeonato gaúcho, o Inter foi a Caxias e saiu vencendo, com um gol de Christian logo aos quatro minutos. Mas com dois do meia Flávio, que comandou a virada, e um de Lauro, o Juventude construiu a vantagem.
A derrota abalou seriamente o ânimo do time de Celso Roth. Após o jogo, o lendário Claudiomiro, ex-centroavante colorado que assistiu à partida no Jaconi, foi até o vestiário e, com lágrimas nos olhos, gritou para os jogadores cabisbaixos:
— Vocês não podem abaixar a cabeça, não tem nada perdido! Eu já fui jogador deste clube e sei o que isto significa.
Gauchão, final — 7/6/1998 — Inter 0x0 Juventude
No entanto, o Bigorna (apelido pelo qual Claudiomiro ficou conhecido) teria mais motivos para chorar no domingo seguinte. Nem o Beira-Rio lotado conseguiu
fazer o Inter reverter a vantagem obtida pelo Juventude na Serra.
Com o placar fechado, o time de Lori Sandri interrompeu a série de títulos da Dupla Gre-Nal que já durava 59 anos.
O goleiro Humberto foi um dos personagens do título, ao defender todas as investidas do time da casa, inclusive em um lance cara a cara com Christian, logo a um minuto de jogo. Era um sinal de que a bola não iria mesmo entrar...
Copa do Brasil, semifinal — 26/5/1999 — Juventude 0x0 Inter
Com uma série de desfalques, o técnico Paulo Autuori armou um esquema nunca antes usado, com três zagueiros (Gonçalves, Lúcio e Ronaldo), e conseguiu um empate promissor na Serra. Sem Dunga e Fabiano, lesionados, Régis, suspenso, e Christian, com amigdalite, vetado 10 minutos antes da partida, o time comemorou o resultado.
Copa do Brasil, semifinal — 2/6/1999 — Inter 0x4
Juventude
O Beira-Rio estava superlotado. Muita gente, com ingresso na mão, ficou do lado de fora até o início do jogo. A direção decidiu abrir os portões do setor de cadeiras, provocando tumulto. Como um estouro de boiada, uma multidão invadiu o estádio, onde cerca de 70 mil colorados já espremiam-se, ansiosos para ver o time chegar a uma final de competição nacional, após sete anos. Bastava vencer por qualquer placar. No entanto, o time da Serra aprontou a sua maior surpresa à equipe da Capital.
Quando a torcida explodisse com um gol do Inter, poderia acontecer um desastre nas arquibancadas. Talvez por uma decisão dos céus, para evitar uma tragédia, o time não fez nenhum e ainda levou quatro. Comandado pelo jogo cadenciado de Mabília, o Juventude imprimiu seu ritmo e empilhou gols, marcados por Marcos Teixeira, Márcio, o próprio Mabília, e Capone. Em seguida, confirmaria o grande futebol nas finais contra o Botafogo e
conquistaria o
maior título da sua história.
Na mesma semana da tragédia da Copa do Brasil, o Inter se vingou vencendo o Juventude no Jaconi por 3 a 1, de virada, e, no Beira-Rio, por 3 a 2, pela semifinal do Gauchão. No entanto, estes jogos ficaram quase esquecidos — até porque o time perdeu o título para o Grêmio, de Ronaldinho —, enquanto os 4 a 0 entraram para a história como um dos maiores traumas da história colorada. Depois deste jogo, a multidão revoltada protestou, xingou e depredou o estádio. No dia seguinte, carteirinhas de sócio eram vistas aos pedaços no entorno do Beira-Rio.
Campeonato Gaúcho, 21/2/2004 — Juventude 4x1 Inter
O encontro com o Juventude instalou uma pequena crise no Inter. Após o jogo, o técnico Lori Sandri fez críticas abertas a jogadores, o que gerou um mal-estar no grupo. Uma delas entrou
para o folclore do futebol gaúcho. Comentando a atuação
do zagueiro Tiago Saletti (foto), 21 anos, Lori disse:
— O Figueroa quer sair jogando e entrega dois gols, eu vou fazer o quê?
O Inter saiu na frente com Elder Granja, mas o Juventude virou com Joãozinho, Michel (duas vezes) e Donizete Amorim, em um jogo tumultuado, marcado pela arbitragem no mínimo polêmica do árbitro Fabiano Gonçalves.
Campeonato Brasileiro, 17/7/2005 — Inter 5x2 Juventude
Alguns jogos poderiam ter servido para acabar com a fama de "touca". Mesmo assim, são menos lembrados que as derrotas. Com muita naturalidade, o time de Muricy Ramalho, que só não levou o título brasileiro de 2005 por causa da anulação dos jogos e do pênalti não-marcado em Tinga, aplicou uma goleada impiedosa na equipe de Caxias do Sul. O placar foi o mesmo de um Gre-Nal que é lembrado até hoje pelos
colorados, em 1997, mas a vitória não foi suficiente para "rasgar
a touca".
Aos 29 minutos do primeiro tempo, já estava 4 a 0. A equipe que se ensaiava para conquistar a América no ano seguinte patrolou os rivais da Serra com gols de Iarley, Índio, Jorge Wagner (duas vezes, a primeira em uma falha do goleiro Doni, com passagens pela Seleção Brasileira) e Rafael Sobis. Depois do quinto gol do Inter, Naldo e Zé Carlos descontaram.
Campeonato Brasileiro, 21/10/2007 — Inter 3x0 Juventude
Em uma tarde de afirmação, o Inter venceu com autoridade, se credenciou a uma vaga na Sul-Americana e praticamente decretou o rebaixamento do Juventude. Magrão e Fernandão (duas vezes) marcaram. Ao final da partida, os torcedores se vingaram por tantos infortúnios, aos gritos de "Ão, ão, ão, Segunda Divisão".
Maycon abraça o técnico Edson Gaúcho após um dos gols desta quarta, contra o Inter
Foto:
Porthus Junior