| 20/03/2007 11h04min
O PMDB é o grande vitorioso da reforma ministerial promovida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O partido, que antes das mudanças comandava três ministérios (Comunicações, Saúde e Minas e Energia), agora passará a gerir cinco pastas (ganhou a Integração Nacional e a Agricultura). Consolidando-se como maior aliado de Lula no Congresso, o PMDB administrará, a partir de agora, 44% dos recursos orçamentários - R$ 37,4 bilhões - destinados às despesas de custeio e investimento da máquina federal.
Trata-se de uma fatia maior que a do PT, o partido do presidente, que aparece em segundo lugar, com 39,55% do Orçamento sob sua responsabilidade. O temor de aliados históricos de Lula, como o PSB e o PCdoB, se confirmou: neste início do segundo mandato do presidente, PT e PMDB são os verdadeiros donos do poder. Juntos, responderão por quase 84% do Orçamento (R$ 71,1 bilhões), sem contar os recursos bilionários das estatais que administram.
A expectativa de que, com
a reforma, o governo passaria
por um processo de "despetização" não foi cumprida. Quando comparada à primeira formação do governo Lula, de janeiro de 2003, a atual tem, de fato, menos ministérios sob o comando do PT, mas algumas pastas, como as das Cidades e da Saúde, o partido já havia perdido ao longo do primeiro mandato. Na nova coalizão, o PT conquistou novos espaços.
O partido ficou sem a articulação política, entregue por Lula a Walfrido dos Mares Guia, do PTB. Ganhou, no entanto, a Justiça, que nos últimos quatro anos foi comandada pelo advogado Márcio Thomaz Bastos, da cota pessoal do presidente. Com a nomeação de Tarso Genro, a Justiça ganhou peso político. Ao contrário de outros petistas com cargos no governo, Tarso tem vida partidária e ambições políticas.
O PT ganhou também o Ministério do Turismo, cuja importância, daqui em diante, aumentará graças ao peso de sua ocupante – a ex-prefeita Marta Suplicy, a maior liderança do partido em São Paulo e, neste momento, a principal aposta
petista para a sucessão de
Lula em 2010. De todos os partidos da coalizão governista, o PT é o único que terá no ministério um presidenciável – a própria Marta.
Se perdeu a articulação política e as lideranças do governo no Congresso para o PTB e o PMDB, o PT ganhou a presidência da Câmara dos Deputados, com a eleição de Arlindo Chinaglia (SP). Trata-se de um feito que, na avaliação do Palácio do Planalto, mais do que compensa possíveis perdas.
Bloco dos prejudicados
Dos partidos da base aliada, quem sofreu prejuízos com a nova configuração foram os aliados históricos, especialmente, o PCdoB. No primeiro mandato de Lula, os comunistas tiveram o Ministério dos Transportes e, em momentos alternados, a liderança do governo na Câmara, o Ministério das Relações Institucionais (responsável pela articulação política) e a presidência da Câmara. Hoje, detém apenas a Pasta dos Esportes.
O PSB, outro aliado histórico, manterá o número de
ministérios sob seu comando no segundo mandato, caso o
presidente Lula confirme a criação da Secretaria Nacional dos Portos. O partido conservou o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), mas perdeu a Integração Nacional para o PMDB. No arranjo final da reforma, ficou uma lacuna: ao manter o físico Sérgio Resende no MCT, Lula atendeu ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, mas, ao escolher Pedro Brito para a Secretaria de Portos, agradou ao ex-ministro e hoje deputado Ciro Gomes (PSB-CE), preterindo o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS).
Os partidos envolvidos no mensalão - PP, PR (ex-PL) e PTB, além do PT -, em vez de perder, ganharam posições. Mantiveram o controle dos Transportes (PR) e das Cidades (PP), este contra a vontade do PT, que desejava dar a Pasta à Marta Suplicy, e ganharam a articulação política (PTB) e a liderança do governo na Câmara (PTB). Nada mal para quem esteve no centro da crise que por pouco não produziu um processo de impeachment contra o presidente da República.