| 27/02/2007 10h45min
A disputa pela presidência nacional do PMDB colocou em campos opostos o presidente regional do partido no Rio, Anthony Garotinho, e o governador do Estado, Sérgio Cabral Filho. Enquanto Cabral apóia a candidatura do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim, Garotinho declarou apoio à reeleição do deputado federal Michel Temer (SP). Em reuniões ontem, pela manhã com Temer no diretório regional do PMDB e, à tarde, com Jobim, num hotel do Rio, Cabral e Garotinho trocaram farpas, expondo publicamente as suas divergências.
Na briga pela conquista de votos para os candidatos no Estado, Garotinho parece ter levado a melhor. Documento a ser entregue a Temer pelo diretório do Rio lhe dará 66 votos de um total de 77. Ao ser questionado sobre a possível vantagem de Temer sobre Jobim, Cabral respondeu: “voto é voto".
Em discurso pela manhã, o governador lamentou a negativa do diretório estadual em ceder o auditório para o encontro que aconteceria à tarde com
Jobim. Garotinho explicou que
o local já estava reservado para um evento de presidentes de zonais.
– Jamais fecharíamos as portas do partido.
O ex-governador do Rio disse que apóia Temer pela sua "lealdade" na condução das prévias do partido para a escolha de um candidato que concorreria à presidência da República.
–Seria uma ingratidão muito grande da minha parte, neste momento, em que vossa excelência disputa a presidência do partido, eu não apoiá-lo. Vossa excelência não vai olhar para mim e encontrar aqui um ingrato. Vossa excelência sabe muito bem que um dos pilares da convivência política é a lealdade. Lealdade é muito importante – alfinetou.
Segundo Garotinho, a sustentação da candidatura de Jobim se dá basicamente por forças do partido que foram contra a candidatura própria do PMDB à Presidência da República e "lutaram para esmagar o partido":
– Queremos unidade com independência e não unidade com subserviência.
Em
discurso à tarde, Garotinho fez um apelo a Jobim para que abrisse mão
da candidatura em prol da unidade.
– Que esta eleição não sirva para nos separar e nos dividir –, afirmou Garotinho.
Jobim lembrou que antes mesmo de Temer se lançar candidato ele havia sido convidado por lideranças do PMDB.
– Quando soube da minha candidatura Temer disse: Vamos aguardar e construir uma candidatura para que não seja contra mim e sim produzida no partido. Vamos aguardar fevereiro? Quando retornei, depois da eleição para a presidência da Câmara, a candidatura de Temer estava posta", disse Jobim.
Segundo o ex-ministro, não houve uma discussão real sobre projetos do partido para o Brasil no período em que Temer esteve à frente da legenda. Para ele, desde o fim da ditadura o PMDB se transformou numa confederação de partidos regionais sem um projeto para o país.
– De lá para cá, não encontramos bandeira alguma. Ficamos circulando nacionalmente sob o comando de naves alheias. Concorro por uma bandeira
da modernização. Não represento grupo algum. A minha
disposição de unidade nasceu lá atrás. Quero ajudar a buscar uma unidade voltada para objetivos. Não temos soluções. Temos, em alguns casos, meras ambições –, disse Jobim.
Visivelmente irritado, Garotinho pediu a palavra e afirmou que a direção nacional criou um grupo de trabalho coordenado pelo economista Carlos Lessa para elaborar um programa de governo.
– O PMDB discutiu exaustivamente um projeto para a nação. Lamentavelmente, num golpe de Estado, a executiva nacional mudou o quórum da convenção para que o partido não tivesse candidatura própria. Renan e Sarney boicotaram o partido. Gostei do seu discurso, o seu discurso me empolga. Se eu não fosse vacinado votaria no senhor. Mas as forças que estão com o senhor não queriam programa. Diga-me com quem andas e te direis quem és –, disse Garotinho numa referência indireta ao presidente do Senado, Renan Calheiros (AL) e ao senador José Sarney (AP). Ao retirar-se, Jobim afirmou que a recíproca é
verdadeira.
Durante o encontro da manhã,
Cabral elogiou a história e a importância política de Temer, mas afirmou que o partido precisa se renovar para se consolidar como alternativa para o Brasil.
– Tenho certeza de que vamos encontrar uma solução de unidade. Chega de brigas –, disse Cabral ao chegar. Ao discursar para Temer, o governador disse que “há sempre aqueles que gostam de crescer na divisão, mas não é o seu caso". Hoje, Cabral reúne-se com Jobim e governadores do PMDB, no Rio, para discutir o apoio a sua candidatura.