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 | 29/10/2006 20h00min

Lula tem agora o desafio da governabilidade

Presidente reeleito enfrentará forte oposição

Confirmada a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as atenções se voltam para a governabilidade do segundo mandato. Após uma campanha dura, principalmente com o estouro do escândalo do dossiê, e com a ameaça de setores mais aguerridos da oposição, a pergunta é se Lula conseguirá aprovar no Congresso as reformas necessárias para o país crescer.

Alguns analistas políticos acreditam que é possível, desde que o novo governo seja ágil. Para o professor Lúcio Rennó, do Centro de pesquisa e pós-graduação das Américas das Américas, da Universidade de Brasília (UnB), Lula terá pouco mais de um ano e meio antes de ser atropelado pelo calendário eleitoral. Haverá eleições municipais em 2008 e, no fim de 2009 já se estará discutindo a sucessão. Na opinião de Ricardo Ismael, professor da PUC-RJ, a reforma política, tão esperada após os escândalos no Congresso, e o crescimento econômico do país, atualmente na faixa de 2%, são dois pontos que serão cobrados e deverão ser debatidos logo no primeiro ano do novo mandato.

O cientista político Fernando Lattman-Weltman, da Fundação Getúlio Vargas, acredita que a base do governo deve engordar. E que o Congresso que vai tomar posse em 1º de janeiro pode não ser exatamente este que saiu das urnas em 1º de outubro, graças ao que chama de "peso gravitacional" do presidente eleito.

– Uma vez eleito um presidente, os partidos desta base passam a ter um poder, uma gravidade forte para atrair alguns deputados de outros partidos. Vai haver migração, com certeza, para vários partidos da situação.

Já Gaudêncio Torquato, cientista político e professor da Universidade de São Paulo (USP), lembra que Lula vai encontrar um país dividido. Para o professor, seu principal desafio será governar para todos.

– Ele está diante de um país profundamente dividido, amargurado, muito até pelo próprio discurso dele. Essa recorrência contra os eleitores tornou a sociedade bastante tensa. Ele não poderá criticar mais as classes A e B – disse.

Torquato acredita que Lula vai começar o novo governo ainda com as cobranças da oposição, terá um apoio maior na Câmara, enquanto no Senado deverá encontrar uma oposição maior. Apesar disso, ele não vê grandes dificuldades para o governo. Segundo o professor da USP, a sociedade estará mais atenta a este segundo mandato do petista, o que vai ajudar na hora de aprovar as reformas que estão pendentes: política, previdenciária e tributária.

– A sociedade não agüenta mais esses costumes do toma-lá-dá -cá. É preciso que os políticos cortem na própria carne. Fazendo uma reforma política que pode qualificar os costumes – afirmo.

AGÊNCIA O GLOBO
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