| 29/10/2006 19h19min
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) garantiu a reeleição na noite deste domingo ao obter 60,57% dos votos válidos, ante 39,43% do adversário Geraldo Alckmin (PSDB), com 86,72% dos votos apurados. Alckmin não tem mais condições de virar o placar.
O vice é o mesmo eleito em 2002, José Alencar (PRB). O petista se mantém no poder mesmo depois de um mandato marcado por denúncias de corrupção que atingiram em cheio membros do primeiro escalão de seu governo, líderes do partido e assessores próximos.
Lula tem agora como desafio garantir uma base aliada para aprovação de projetos no Congresso. No campo econômico, o presidente prevê crescimento maior do que a média de 2,5%, garantidos por meio de uma política de manutenção de juros altos, num estilo semelhante ao do governo FH. O presidente acredita na melhora ao dizer que o Brasil tem política externa forte, conquista indicadores positivos com exportações e faz crescer o emprego formal. Forte mesmo é o apoio de classes mais baixas a Lula. Com uma política social agressiva, o atual governo exibe números que indicam redução de miséria.
O candidato à reeleição tomou um susto no primeiro turno quando pesquisas apontavam para uma inevitável vitória no dia 1º de outubro. Cenas de pilhas de dinheiro usado para a compra do Dossiê Cuiabá foram mostradas às vésperas das eleições e podem ter provocado um novo pleito – eram o R$ 1,7 milhão apreendidos com petistas numa operação desastrada (e frustrada) para comprar documentos de empresários que ligariam tucanos à Máfia das Sanguessugas – o esquema de superfaturamento na compra de ambulâncias. A ausência de Lula no debate marcado pela Rede Globo no mesmo dia também foi admitida pelo próprio presidente como um dos motivos para o adiamento da reeleição.
No segundo turno, Lula participou de quatro dos cinco debates propostos por emissoras de televisão. No primeiro round, Alckmin mudou a estratégia de até então e adotou uma postura agressiva e os dois presidenciáveis trocaram farpas ao longo do programa. Sem surtir efeito segundo pesquisas de intenção de voto, o tucano foi baixando o tom. Mas, ao mesmo tempo em que apresentavam propostas, tanto o petista contra o tucano voltavam a ataques pessoais. Escândalos de corrupção eram constantemente lembrados por Alckmin.
No ano passado, a crise em Brasília virou até programa de televisão obrigatório nos lares brasileiros no ano passado, quando o deputado cassado Roberto Jefferson (PTB) denunciou o mensalão, suposta mesada paga aos parlamentares para que votassem a favor de projetos do governo. O escândalo tornou conhecido o publicitário mineiro Marcos Valério e derrubou o então presidente nacional do PT, José Genoíno, o então ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, e botou no rol de beneficiados por dinheiro de caixa dois o ex-marqueteiro de Lula Duda Mendonça – o baiano responsável pelo Lulinha Paz e Amor da campanha de 2002.
Lula não sabia de nada. Foi essa a afirmação do presidente para se isentar de qualquer culpa em relação aos fatos negativos que atingiam dia a dia os petistas. Outro argumento do presidente foi o de que nunca a Polícia Federal havia tido tamanha liberdade para atuar. As justificativas parecem ter convencido a população. Foram as mesmas utilizadas quando outro ministro importante, Antonio Palocci, teve o nome envolvido na quebra ilegal de sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Sob o petista pesava a acusação do caseiro de que o ministro participava de reuniões com lobistas em uma mansão de Brasília. Em poucos dias, nova baixa na Esplanada. Palocci deixou a pasta da Fazenda, que ocupava desde o início do governo.
O ano turbulento teve ainda episódios insólitos como o caso do petista preso com dólares na cueca. O ex-dirigente do PT do Ceará José Adalberto Vieira da Silva levaria o dinheiro para José Nobre Guimarães, irmão de Genoíno. Mas 2006 chegou com a perspectiva de uma vitória ainda no primeiro turno para Lula. Pesquisas de opinião apontavam larga margem ante o principal adversário,
Geraldo
Alckmin (PSDB). Lula tinha respaldo entre as camadas mais baixas da população graças a programas sociais como o Bolsa-Família, motivo pelo qual chegou a ser tachado como assistencialista.
Confira o resultado completo da apuração