| 18/10/2006 15h46min
O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), demonstrou preocupação com o acirramento do confronto entre aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do tucano Geraldo Alckmin. Apesar de dizer que "a troca de argumentos" é natural em uma campanha polarizada, Aldo disse temer que a crise prejudique o processo democrático brasileiro.
– O que eu receio é que a luta política degenere para conflitos mais graves, o que não é desejável para a democracia no Brasil.
Ele aproveitou para cutucar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, dizendo que o tucano deveria reler o livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, para não agir como os militares que enfrentaram o beato Antônio Conselheiro e seus seguidores no sertão da Bahia no fim do século 19. Para Aldo, alguns intelectuais posam de "portadores da modernidade", sem se darem conta de que podem estar agindo como os militares que massacraram os seguidores de Conselheiro.
– Os que foram combater em Canudos em nome da modernidade, achando que aqueles nordestinos do sertão da Bahia eram representantes da barbárie e do atraso, que lutar contra Canudos era lutar pela modernidade e pela República, o que vimos é que isso terminou numa barbárie. Os portadores da modernidade, no seu radicalismo, exterminaram milhares de camponeses. É preciso que os intelectuais, que se julgam portadores da modernidade contra o atraso, que seriam os eleitores do presidente Lula, tenham cuidado para não se comportarem da mesma forma que os modernizadores que combateram Canudos – disse o presidente da Câmara.
Para o deputado, em vez de fortalecerem a democracia e a República, os ditos republicanos que destruíram Canudos acabaram beneficiando os barões que mandavam no país na época, e que ainda existem, na opinião do deputado. Rebelo disse que a idéia de que os tucanos são os portadores da modernidade, e que os eleitores de Lula são pessoas que vêm dos grotões e "fanáticos do Bolsa Família", é perigosa e leva à divisão da sociedade.
Rebelo ressaltou, porém, que, passadas as eleições, a tendência é que essa disputa mais agressiva entre oposição e governo fique mais amena.
Em relação à última pesquisa do Instituto Datafolha sobre as intenções de voto para o segundo turno da eleição presidencial, em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ampliou sua vantagem sobre Geraldo Alckmin, o presidente da Câmara comentou que deve ser respeitada, mas que é apenas o retrato de um momento. Ele disse que já viu resultados de pesquisas serem desmentidos nas urnas.
AGÊNCIA CÂMARA E AGÊNCIA BRASIL