| 18/10/2006 12h09min
Em entrevista à Rádio CBN, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, negou o uso da “tática do medo" na campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à reeleição, ao abordar a questão das privatizações de estatais ao longo dos governos tucanos.
Segundo ele, a questão só pode ser encarada desta maneira se Alckmin reconhecer que o processo de privatização "fez mal" ao Brasil. Ainda na entrevista, o ministro voltou a defender uma investigação profunda do escândalo da compra de dossiê contra tucanos e afirmou que "doa a quem doer" os responsáveis deverão ser punidos. Nesta quarta-feira, líderes de oposição vão à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pedir que as investigações sobre o caso sejam intensificadas. - A questão do dossiê tem que ser investigada e as pessoas têm que ser punidas. Tem que ver se não foi situação provocada que estimulou pessoas com tendência a cometer ilegalidades que cometeram. Doa a quem doer, as pessoas devem pagar. Tarso focou a discussão nas privatizações realizadas pelo governo de Fernando Henrique Cardoso e criticou o ex-presidente. - Sempre que se usa essa tática do medo está se apontando um mal. Portanto, se ameaça com o mal. O que está se discutindo é se vai haver ou não o processo de privatização, que o próprio candidato Alckmin diz que é um bem, como está hoje nos jornais. O que se discute com a privatização é uma questão de natureza programática, onde as pessoas têm antecedentes a respeito disso. Então, cabe a ele defender as privatizações que fez e dizer que não vai fazer mais, se é que elas já estão completas. Coisa que parece que o presidente Fernando Henrique não concorda - alfinetou o ministro. Tarso rebateu ainda a declaração do ex-presidente, que questionou também em entrevista à rádio CBN, por que o governo Lula não realizou a reestatização das empresas, já que as privatizações foram tão ruins. Segundo Tarso, "esta é uma resposta inadequada do ponto de vista político e que não discute a questão essencial". - Iria forçar a barra em algumas questões que deram certo, como a questão da telefonia. Por exemplo, a questão da Vale do Rio Doce foi privatizada por 2 bilhões e pouco, logo em seguida estava dando lucro de 4 bilhões. Seria possível reestatizar a Vale por 2 bilhões e pouco? Se fosse possível desprivatizá-la pelo preço que foi vendida, poderia ser até pensado. Mas por que desprivatizar por um preço arbitrário se o Estado tem tantas despesas a fazer que são prioritárias, e a Vale está funcionando, - explicou. O ministro também negou que o presidente Lula utilize as estatais para fins políticos, conforme afirmou FH na véspera. - Toda estatal desenvolve políticas do governo, políticas públicas. Se são corretas e apoiadas pela população, que é isso que ele está dizendo, e evidentemente isso tem um resultado de satisfação da sociedade que repercute no processo eleitoral. É uma questão que tem que ser discutida. Agora, utilizar estatais para fins políticos partidários, eu não vejo nenhum indício, nenhuma comprovação e sequer ameaça de alguém ter feito isso, pelo menos no último período do governo do presidente Lula. Durante a entrevista, Tarso Genro comemorou ainda a ampla vantagem do presidente Lula na pesquisa Datafolha, divulgada na noite desta terça-feira. Segundo ele, o governo conseguiu provar para o povo que o país vive um processo de "corrupção sistêmica", que está sendo combatido e não é exclusivo da gestão petista. - Ao longo do primeiro turno, principalmente, fomos alvos de um conjunto de ataques e um cerco midiático, inclusive, que nos colocou numa grande defensiva. Neste segundo turno, estamos mostrando que no Brasil existe um processo de corrupção sistêmica, que acompanhou a história do Estado brasileiro, inclusive atravessou vários governos. No atual governo, que também tem problemas nessa área, herdou uma situação, que está sendo combatida de maneira aguda. A população está compreendendo que a corrupção está aparecendo não somente porque tem pessoas do PT envolvida, que foram alvos de investigação, mas, sobretudo, porque o Estado brasileiro investiga. AGÊNCIA GLOBO