| 01/09/2006 21h13min
A rivalidade entre irmãos é tema recorrente na história antiga. No universo judaico-cristão, Caim matou Abel; Esaú foi traído por Jacó. Na mitologia romana, Rômulo assassinou Remo após ser ridicularizado. Mas a relação entre Oswaldo de Oliveira e Waldemar Lemos, que se enfrentam neste sábado, no Mineirão, às 16h, no comando de Cruzeiro e Figueirense, está mais próxima da lenda grega de Castor e Pólux.
A dupla do Olimpo representa um exemplo único de amor fraterno. O primeiro era filho do rei de Esparta, portanto humano, e mortal. O segundo era filho de Zeus, e imortal. Quando Castor morreu, Pólux se recusou a ficar separado do irmão. Zeus, então, transformou os dois na Constelação de Gêmeos, onde permaneceriam unidos pela eternidade.
A trajetória de Oswaldo e Waldemar no futebol não é tão épica, mas carrega uma dose considerável de respeito e admiração mútua. Será a primeira vez que os dois profissionais se enfrentam como técnicos. Mas Oswaldo garantiu, após o treino do Cruzeiro na manhã da última sexta:
– Nunca seremos rivais.
E Waldemar atestou, antes do treino do Figueira, à tarde:
– É a mais pura verdade. Simplesmente impossível.
Os dois chegaram a ser adversários na condição de preparadores físicos, durante a passagem de ambos pelo futebol do Catar. Mas a carreira da dupla foi mais marcada pela parceria: por longos anos, e em vários clubes diferentes, Waldemar foi auxiliar do irmão mais velho. E por isso, Oswaldo joga o favoritismo para o mais novo.
– Por ter sido meu auxiliar, ele sabe como são as minhas decisões. Já dele, sei apenas quais são as suas ponderações.
Waldemar revela que o confronto iminente não impediu o tradicional contato entre os dois durante a semana.
– Batemos um papo por telefone, como sempre, mas desta vez não há muito o que falar – limitou-se a dizer.
Dona Santinha é que terá motivos de sobra para comemorar neste sábado. Ou não.
– Vai ser bom para nossa mãe, porque estaremos juntos. Só que ela sempre torce para que os dois atinjam os objetivos e dessa vez não será possível – diz Waldemar, que embarca para o Rio após a partida, onde almoça no domingo ao lado da mãe e do irmão.
A idéia dos dois utilizarem sobrenomes diferentes (Oswaldo, o do pai; e Waldemar, o da mãe) surgiu durante a passagem de ambos pelo Fluminense. Em 2006, os dois estiveram próximos de se enfrentar em uma ocasião especial, a final da Copa do Brasil, mas os dois acabaram caindo nas semifinais. Oswaldo com o Fluminense, diante do Vasco. E Waldemar, demitido do Flamengo, que terminou campeão.
MAURÍCIO XAVIER/DIÁRIO CATARINENSE