| 20/07/2006 17h25min
Israel, apoiado pelos Estados Unidos, anunciou hoje na ONU que dará continuidade às suas operações militares até acabar com as milícias do Hezbollah, em resposta ao chamado do secretário-geral da organização, Kofi Annan, a um cessar-fogo imediato. Em reunião no Conselho de Segurança, Annan tinha pedido o fim dos confrontos como forma de evitar a perda de mais vidas inocentes, permitir a chegada da ajuda humanitária e dar à diplomacia a oportunidade de alcançar uma solução para a crise.
Annan reconheceu que existem "sérios obstáculos" para a obtenção de um cessar-fogo durável caso antes não se chegue a um acordo político, por isso apresentou uma série de propostas para que sirvam de base para a elaboração de uma resolução. Algumas das sugestões do secretário-geral foram a libertação dos soldados israelenses capturados e o envio de uma força estabilizadora.
Além disso, Annan propôs o cumprimento de uma resolução de 2004 que estabelece o desarmamento e o desmantelamento das milícias libanesas e a extensão da autoridade do Governo do Líbano a todo o país, inclusive ao sul, onde operam as milícias xiitas do Hezbollah. Também foi proposta a convocação de uma conferência internacional para a elaboração de um calendário para a demarcação final da fronteira do Líbano, incluindo as polêmicas Fazendas de Chebaa, ocupadas por Israel.
No entanto, o plano de Annan não foi bem recebido pelo embaixador de Israel na ONU, Dan Gillerman, que reprovou o fato de o relatório do secretário ter omitido três palavras que ele considera chaves: terrorismo, Irã e Síria.
– Estou mais aborrecido pelo que não disse que pelo que disse. Ele omitiu a palavra terrorismo, que é a origem do sofrimento ao qual a população do Líbano está submetida – declarou.
Gillerman também criticou o fato de Annan não ter mencionado o Irã, que, na sua opinião, é quem financia as milícias Hezbollah, e a Síria, também pelo apoio ao movimento xiita e por "obstaculizar" os esforços diplomáticos da delegação mediadora da ONU.
– Temos que abordar o fim do terrorismo, em vez de um cessar-fogo. Israel continuará fazendo todo o possível para frear o terror até eliminá-lo totalmente – destacou o diplomata israelense.
Gillerman também se recusou a negociar uma solução política para o estabelecimento de um cessar-fogo permanente, por considerar que isso não tem sentido algum neste momento. Por sua vez, o embaixador dos EUA na ONU, John Bolton, se mostrou condescendente com a posição de Israel e manifestou que, antes de um cessar-fogo, é necessária uma transformação profunda na região.
– Ninguém pode explicar como se pode alcançar um cessar-fogo entre um Estado democrático e um grupo terrorista – declarou.
Bolton culpou a Síria por "obstaculizar" os esforços diplomáticos internacionais ao impedir a entrada de Terje Roed Larsen, o enviado especial para o cumprimento da resolução para o desarmamento do Hezbollah e responsável pela missão mediadora da ONU.
– Não entendo como a ONU pode ter um maior papel se um dos grandes atores da região sequer quer falar – destacou.
O diplomata americano se comprometeu a estudar as idéias apresentadas por Annan, mas ressaltou que a posição que seu país defenderá dependerá do contexto político e militar. Bolton lembrou ainda que a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, que planeja viajar à região na próxima semana, se reunirá esta noite com Annan em Nova York.
O Conselho de Segurança debaterá de novo amanhã a situação no Líbano em uma reunião da qual participarão os representantes da delegação que Annan enviou à região, encabeçada por seu assessor político, Vijay Nambiar.
AGÊNCIA EFE