| 06/07/2006 19h42min
Um ano depois dos atentados suicidas contra a rede de transporte público de Londres, a polícia não conseguiu acusar ninguém em relação ao massacre, e muitas perguntas continuam sem resposta. Duas investigações oficiais pouco esclareceram sobre os piores atentados da história do Reino Unido, que deixaram 56 mortos – inclusive os quatro terroristas – e cerca de 700 feridos.
Os terroristas, todos britânicos (três de origem paquistanesa e um de procedência jamaicana), atingiram a capital do Reino Unido na manhã de 7 de julho de 2005, quando detonaram bombas em três trens do metrô e em um ônibus urbano. A polícia ainda procura pistas enquanto terminam os preparativos dos atos para lembrar as vítimas da tragédia nesta sexta – um ano depois dos ataques.
O chefe da brigada antiterrorista da Scotland Yard, Peter Clarke, disse esta semana que os agentes estão tentando reconstituir os fatos, mas admitiu que se trata de um trabalho muito complicado.
– Precisamos saber quem mais, além dos terroristas, sabia que o que eles estavam planejando – afirmou Clarke, que acrescentou que os detetives examinaram 13.353 declarações de testemunhas, 29,5 mil provas e 6 mil horas de gravações de câmaras de segurança.
O chefe policial, que tenta responder a perguntas como: "Alguém os encorajou? Alguém os ajudou com dinheiro, alojamento ou conhecimentos para fabricar bombas?". Clarke afirmou que a investigação dos atentados continua sendo intensa, e ressaltou que ainda acredita ser possível descobrir provas que permitam acusar alguém formalmente.
Dois dos terroristas, Mohammed Sidique Khan, de 30 anos e suposto líder do ataque, e Shehzad Tanweer, de 22, visitaram o Paquistão antes do massacre. Por isso, grande parte da investigação é concentrada na tentativa de descobrir o que eles fizeram no país asiático.
– A suspeita é que eles tenham se reunido com gente ligada à Al-Qaeda e ido a campos de treinamento – afirmou Clarke.
No entanto, as duas investigações oficiais do massacre – uma do Ministério do Interior e outra da Comissão de Inteligência e Segurança da Câmara dos Comuns – não conseguiram confirmar essa suspeita.
Segundo o relatório do Ministério do Interior, apresentado em maio ao Parlamento, o governo britânico não encontrou rastro do suposto apoio da rede terrorista Al-Qaeda aos quatro suicidas. O documento declara que não existem provas conclusivas para confirmar as declarações dadas pelo número dois da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, em vídeo transmitidos em 19 de setembro, no qual atribuiu à rede terrorista os ataques contra Londres.
A operação foi simples e barata, pois a logística e as mochilas-bomba fabricadas pelos próprios terroristas não custaram mais do que US$ 14.750. A investigação do governo revelou que os quatro terroristas suicidas alternavam uma interpretação radical do Islã com aspectos da cultura ocidental. Por outro lado, o relatório da Comissão de Inteligência e Segurança da Câmara dos Comuns apontou que "teria havido mais chances de evitar os atentados se tivessem sido destinados mais recursos a tempo" aos serviços de segurança e espionagem. Esse documento confirmou que os serviços secretos haviam investigado Khan e Tanweer antes dos atentados, e também haviam fichado o suicida de origem jamaicana, Germaine Lindsay, de 19 anos, embora não o quarto terrorista, Hasib Hussain, de 18.
Dadas as dúvidas suscitadas pelos dois relatórios, as famílias das vítimas têm exigido uma investigação pública dos atentados. No entanto, o primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, voltou a descartar essa idéia nesta terça-feira, argumentando que essa investigação seria muito custosa e absorveria recursos destinados à luta antiterrorista.
Nesta quinta-feira, a rede de TV Al Jazeera divulgou um vídeo no qual aparece um jovem identificado como Tanweer, que assegura que haverá mais atentados.
"O que presenciaram agora é só o começo de uma série de ataques que continuarão e serão mais fortes", diz o terrorista na mensagem, aparentemente gravada pouco antes de ele se suicidar.
O terrorista, que fala em inglês e veste lenço kuffiah (típico do Oriente Médio) vermelho e branco, diz que Londres será palco de mais atentados "até que (o governo britânico) retire suas forças do Afeganistão e do Iraque e deixe de financiar Israel". O vídeo, uma mensagem póstuma de Tanweer, mostra por poucos segundos o egípcio Ayman al-Zawahiri, o que pode dar a entender uma relação entre o terrorista e os atentados de um ano atrás. No entanto, as imagens de Al-Zawahiri podem pertencer a seqüências obtidas da internet, o que ainda não foi comprovado, pois a emissão da TV catariana não tinha som no fragmento no qual o terrorista egípcio aparece.
O vídeo conclui com uma série de imagens sobre o planejamento de atentados e a preparação e teste de explosivos, além de supostos mapas dos alvos, também disponíveis na internet. Além disso, mostra grupos de homens armados com fuzis automáticos em uma área rural.
AGÊNCIA EFE