| 14/11/2005 07h43min
Cada vez mais isolado no governo e à mercê da artilharia da oposição, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, enfrenta o pior momento no poder. O limite do ministro à pressão, acreditam aliados e até oposicionistas, será o fôlego das suspeitas em torno dele.
Fragilizado pelo desentendimento público com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e cercado por denúncias de irregularidades - que envolvem até o irmão, Adhemar Palocci -, o ministro está a um passo de enfrentar a arena da CPI dos Bingos.
– Será a hora de o ministro dar explicações sobre as denúncias. Palocci atingido é uma fratura no governo – adianta o líder do PFL no Senado, Agripino Maia (RN).
Sem a blindagem de representantes do setor econômico, Palocci já tem um encontro marcado no Senado. Ele deverá comparecer à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) no dia 22. Oficialmente, a pauta da sessão é o rumo da economia. A ida de Palocci à CAE foi uma manobra dos governistas, sugerida pelo próprio ministro, para evitar sua convocação pelas CPIs. Os acontecimentos da última semana, porém, anularam o acordo.
– Não sabemos nem se ele ainda será ministro no dia 22. Vamos aguardar –provoca Agripino.
Enquanto a oposição se articula, integrantes da base de apoio do governo no Congresso se mostram reticentes diante da tarefa de defender o ministro. Magoados com um passado de acordos não-cumpridos - em especial na liberação de recursos para obras e emendas -, enxergam até mesmo na mudança de comando da Fazenda um possível caminho para a flexibilização do Orçamento, que, em véspera de eleição, faria a delícia de parlamentares sedentos de votos. O desentendimento com Dilma por conta do ajuste fiscal só alimentou esse sentimento.
– Hoje, ele é um ministro fragilizado – reconhece o deputado Beto Albuquerque, vice-líder do governo na Câmara.
Palocci ja perdeu o papel de único fiador da política econômica ortodoxa. Não há mais entre setores da oposição que representam o empresariado o temor de que a saída do ministro ameace a estabilidade econômica. O presidente Lula, porém, não quer alimentar esses comentários. Ancorado no sucesso dos números, o presidente prefere que Palocci não deixe o governo. Para defender o ministro, escalou o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e mandou que os governistas do Senado se organizem para proteger o ministro. No sábado, divulgou, oficialmente, uma nota na qual afirma: não planeja fazer mudanças na política econômica e nem substituir Palocci no comando da Fazenda. Pressionado, Palocci pediu folga durante o feriado.
O governo também trabalha para evitar uma debandada dos assessores de Palocci, que já perceberam a situação precária em que se encontra o chefe. Entre os que devem sair, estão o secretário do Tesouro, Joaquim Levy (convidado para assumir uma gerência do Banco Interamericano de Desenvolvimento), o secretário de Assuntos Internacionais, Luiz Awazu Pereira da Silva, e o assessor de imprensa Marcelo Netto.
CAROLINA BAHIA/ AGÊNCIA RBS