| 17/12/2007 05h05min
Kaká, além do nome de simpática abreviatura e redundância, tem todas as qualidades ocidentais para se eleger esta noite o melhor jogador do mundo pela Fifa. É jovem, de feições bonitas e altura correspondente, bom moço e temente a Deus, de classe média, educada, e é branco. Essas virtudes favorecem muito sua escolha mas, a exemplo de pobres e negros, joga futebol de forma admirável. Além disso, está num clube do norte da Itália fundado no século 19, o que também ajuda aos jogadores. É impossível que não seja ele o escolhido de hoje. Kaká já ganhou a Bola de Ouro da revista France Football. Ontem à noite, em Yokohama, sagrou-se campeão do Mundial de Clubes e foi eleito com justiça o melhor jogador em campo. Com todos esses títulos e com todas as aptidões sociais, Kaká é o novo melhor jogador do mundo.
Essa eleição tem muitos significados além do reconhecimento a Kaká. Com ele se modifica um pouco o modelo do jogador que merece a atenção da mídia, do público e das autoridades. Kaká joga
simples, nada
enfeita ou exagera, sabe fazer gols com simplicidade e mais se valoriza pela colaboração que sempre oferece aos seus companheiros, às vezes antes de si próprio, o que sempre pode ser confundido com a fraternidade evangélica. Mas de tudo em Kaká o que fica é o sorriso agradecido e este conceito que ele sabe expressar sobre o futebol do simples e competente.
Imagem e fala
Ninguém viu o jogo, todo o mundo teve a informação da TV oficial do Japão. Essa igualdade nem sempre colabora para o entendimento. Basta se falar um pouco mais do que a imagem. O reclamado pênalti sobre Inzaghi (...) foi pretexto de pênalti. O jovem árbitro mexicano (...) viu antes o que só mais tarde a TV, em replay, esclareceu. Sobre as duas expulsões nem houve discussão: foram dois golpes rudes e baixos, um italiano, outro argentino. Os gols foram limpos, os impedimentos, também. O fato de Carlo Ancelotti ter preferido um zagueiro na lateral-direita tem muitas explicações, já foi
feito antes por Muricy, e nem
por isto o Milan deixou de aplicar uma goleada no Boca Juniors, atenuada pelo tardio segundo gol argentino. O Milan fechou o fundo do campo e abriu toda a frente para atacar. Não apenas deu uma goleada como, no rigor de uma decisão, controlou o adversário, correu riscos comedidos, e sempre teve a bola, princípio básico de toda a vitória. O Boca foi o heróico time argentino que se esperava que fosse. Fez um primeiro tempo surpreendente, fez gol e quase fez mais com Palacio como seu principal condutor, marcou cerradamente e se justificou como um desafiante atrevido e algumas vezes agressivo. Mas depois teve de ceder, a barragem italiana avançou, Pirlo meteu-se na frente e então começou a jogar Clarence Seedorf, um magnífico articulador que fez de Kaká o atacante mais decisivo, e, então, se combinaram as virtudes defensivas com as exigências do ataque. Ficou evidente a diferença técnica e tática que separava os dois times.
A TV mostrou tudo isso com clareza, mas aí foi a vez dos preconceitos
de defesa e
ataque com os quais, aliás, vamos morrer.
Título
Muito justamente o Inter gozava dos últimos dias do título mundial de Yokohama. Deu show, abriu uma janta para seus associados e fez carreata. É assim que se faz, um título deste tamanho não se extingue, apenas se homologa e festeja. O Inter, a exemplo do Grêmio e também do Corinthians e mais o São Paulo, Santos e Flamengo, é um dos brasileiros campeões mundiais. Ontem, o Milan, assim como poderia ter sido o Boca Juniors, foi tetracampeão do mundo. Não há título mais valioso para um clube. A temporada de futebol está se encerrando com ele.
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