| 03/02/2002 23h47min
A mulher está subjugada pela violência masculina em todo o mundo, independentemente do tipo de sociedade, religião e classe econômica. A denúncia foi feita no Fórum Social Mundial neste domingo, dia 3, durante a conferência sobre Cultura e Violência Doméstica.
– O diagnóstico é universal – ressaltou a coordenadora da conferência, Fátima Mello, integrante da Associação Brasileira de Organizações Não-governamentais (Abong).
Líderes da Marcha Mundial das Mulheres denunciaram, na conferência, as violações que ocorrem em todos os países. A delegada da Índia Sashi Sail disse que as mulheres estão submetidas a uma opressão "ancestral, múltipla e crescente". Lembrou costumes bárbaros na Índia, como o de cremar a mulher viva quando o marido morria, na pira funerária. Ela não tinha direito à viuvez.
– O século 20 testemunhou o avanço dos direitos das mulheres, mas não reduziu a violência.
Sashi Sail observou que nenhuma sociedade está imune à violência contra a mulher. Exemplificou que nos Estados Unidos, de leis rigorosas, uma mulher é estuprada a cada seis minutos. A indiana alertou para o crescimento dos abusos, principalmente no meio doméstico. A delegada da França Suzy Rojtman advertiu que a violência assume formas diferentes, até invisíveis. Lamentou que a globalização tenha articulado as máfias dos países, dando dimensão "planetária" à prostituição.
A representante do Canadá, Diane Matte, acrescentou que a dominação masculina deixou as mulheres em "estado de medo" e de "vulnerabilidade constante".
– O patriarcado instituiu a dominação sócio-econômica sobre a mulher – disse a canadense.
O psicanalista Jurandir Freire Costa, do Rio de Janeiro, constatou que o "abuso de poder físico e moral" exercido sobre as mulheres decorre de dois mecanismos. Primeiro: os homens sentem-se capazes de justificar uma eventual transgressão. Segundo: os atores da violência ignoram a gravidade do ultraje. Costa disse que é preciso mudar a educação e a cultura. Sugeriu que as mulheres têm parcela de responsabilidade. Como mães, elas educam os filhos que depois se tornam adultos e eventuais agressores. A mudança de comportamento começa na própria família. A conferência discutiu meios para inibir a violência. A francesa Suzy propôs a criação de um tribunal internacional. Também recomendou que cada país adote, na sua legislação, as convenções internacionais de proteção aos direitos da mulher. A Malásia, por exemplo, não considera crime o estupro conjugal. Outra conclusão foi de que o combate à violência não depende apenas dos governos. Fátima Mello, da Abong, destacou que as organizações sociais também devem se empenhar.
– Temos de conseguir novos padrões de educação, cultura e comportamento " disse a brasileira.
NILSON MARIANO
Delegada da Índia Sashi Sail disse que as mulheres estão submetidas a uma opressão "ancestral, múltipla e crescente"
Foto:
Robinson Estrázulas
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