| 14/03/2005 21h04min
Em meio a muita fanfarra e cumprimentos, 300 ex-militares haitianos entregaram no fim-de-semana sete armas antiquadas às autoridades, numa cerimônia considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pelo governo como um passo para o desarmamento do país, que tenta criar um clima de estabilidade para as eleições deste ano.
– São armas que estavam escondidas, foram corroídas, são consideradas inseguras e valem muito pouco no mercado de armas. Quando você tenta cumprir uma quota ou quer dar a aparência, e não necessariamente a realidade, de fazer um sacrifício significativo, você entrega essas armas – disse Larry Birns, diretor do Conselho de Assuntos Hemisféricos, entidade com sede em Washington.
O governo interino do primeiro-ministro Gérard Latortue está sob pressão devido às acusações de abusos contra os direitos humanos, e Birns disse que a cerimônia de recolhimento de armas serve para contrabalançar as críticas. Um ano depois da fuga do presidente Jean-Bertrand Aristide, provocada por uma revolta de ex-soldados e de criminosos comuns, o Haiti continua imerso no conflito. O governo de Latortue, apoiado pelos EUA e pela ONU, enfrenta grupos de favelados leais a Aristide, enquanto a polícia é acusada de matar adversários do governo.
A amistosa relação do governo com os ex-soldados também foi se corroendo diante das exigências deles para a recriação das Forças Armadas. Grupos de ex-militares ainda controlam grande parte do país e se recusam a entregar suas armas. Analistas dizem que é improvável que haja eleições sem violência, especialmente porque nem o governo nem o contingente de 7 mil soldados da ONU, liderado pelo Brasil, vêm se empenhando seriamente para confiscar armas ilegais.
Latortue e alguns ministros foram no domingo, dia 13, à cidade de Cap-Haitien, onde 300 ex-soldados se diziam "prontos para a paz". Liderados pelo comandante Emmanuel Dieuseuel, eles entregaram seis rifles de assalto e uma submetralhadora Uzi.
– O país sempre se lembrará de vocês – disse Latortue.
Ele afirmou que "seus nomes deveriam ser escritos na história do país como sendo os primeiros haitianos que pegaram em armas contra uma ditadura e que agora estão se reintegrando à sociedade". Mas a população local questionou a cerimônia.
– Eu costumava vê-los carregando vários [rifles de assalto] T65 e M14 e pistolas 9mm, e nenhuma delas foi entregue – disse um jornalista.
Um policial, que pediu anonimato, disse que os ex-soldados não entregaram várias armas de grosso calibre que furtaram da polícia durante a revolta de fevereiro de 2004.
As informações são da agência Reuters.
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